Em defesa da credibilidade na web

Pra começar, vou reproduzir a pergunta feita no site Bloggers Blog recentemente: se você encontra a mesma informação em 30 mil blogs diferentes, quer dizer que ela está correta? Vou antecipar a sua resposta com um exemplo simples: vá ao Google e descubra quantos sites atribuem a Luis Fernando Veríssimo o texto “Um Dia de Merda”.

Aqui temos um consenso: em um ambiente onde qualquer um pode facilmente se transformar em produtor de conteúdo, é extremamente perigoso acreditar em tudo que se lê. Cabe ao leitor desconfiar e checar, como se faz (ou deveria ser feito) em uma redação. Evidentemente, a medição da tal credibilidade passa pelo autor da mensagem: é mais fácil acreditar em algo que se lê na BBC do que num blog.

O que, novamente, não quer dizer muita coisa: a BBC também já tropeçou em erros grotescos, assim como qualquer outro jornal virtual, especialmente aqueles que trabalham com a pressão do tempo real. Muitas vezes, na pressa de publicar o fato antes de todo o resto (mesmo que o “antes” sejam alguns segundos), não temos a apuração plena. Na prática, cada site de notícias precisa contrabalançar a agilidade, exigência da web, com a checagem, preceito fundamental do jornalismo. Assim se consegue a tal credibilidade.

Toda essa introdução para chegarmos ao ponto central do debate: há uns 15 dias, ainda no calor do quebra-quebra tricolor na Avenida Paulista, o jornalista Joseval Peixoto, da rádio Jovem Pan, atribuiu a presença dos torcedores a notícias publicadas na internet. Encerrou seu comentário com duas opiniões distintas, que provocou respostas como esta. Primeiro: ao contrário dos jornais impressos ou mesmo do rádio, a web não é uma fonte séria de informação. Segundo: que os leitores deveriam desconfiar das notícias publicadas na internet.

Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Será mesmo que, só pelo fato do jornal ser um veículo centenário, ou do rádio e TV ter décadas de serviços prestados, já garante credibilidade em relação a internet e seus dez anos de vida comercial? Ainda na carona do vandalismo pós-tricampeonato, poucos jornais informaram que a partida não seria transmitida na Paulista – notícia que estava na web.

Tanto faz se é rádio, TV, jornal ou site, ou qual sua marca. A discussão, definitivamente, não é qual veículo é melhor, mas sim qual deles vai atrás da fonte mais confiável, evitando ao máximo o medo de errar. Não se trata da seriedade da web, mas sim de quem a constrói e se reconstrói todos os dias. E isso fecha o círculo aberto nas primeiras linhas, quando concluimos que você, navegante de páginas, também faz parte do processo de circulação noticiosa.

Nisso o Joseval Peixoto tem razão: a enxurrada de informação é tão grande que às vezes é difícil separar o que é verdade dos trotes. Se ainda tem gente que acredita nos e-mails do Serasa, o que dizer do resto? Muito se fala em inclusão digital, um passo inegavelmente importante. Mas não se deve ignorar a cultura digital, cuja lição número um é justamente ficar atento desconfiar de tudo, aprender a ser crítico, distinguir as coisas e construir a tal credibilidade na web.

Vamos nos adaptar todos juntos – ou correr o risco de transformar a internet num imenso cocadaboa.

Comentários em blogs: ainda existem? (6)

  1. Eu tive um professor, na Computação, que não aceitava web como referência para trabalhos. Eu tive uma professora, na Educação, que também não aceitava.
    Tirando alguns sites realmente decentes (jornais, centrais de notícias) não dá pra acreditar no que se lê na internet.
    Além da questão da informação de blogs, wikis e etc.
    Tá começando a ficar confuso, isso aqui. Então, salvo alguns portais séerios de conteúdo, não dá para acreditar no que se lê.
    (Por isso que eu só falo de mim, aí eu tenho certeza de não falar besteira.)

  2. Há poucas fontes de informação confiáveis na internet. Isso se deve à pressa em publicar e à ausência de verificações, como você mesmo citou. No entanto, também é culpa do grande volume de sites que se dispõem a divulgar notícias, volume esse que, aliás, aumenta diariamente.

    Pessoalmente, me atenho à publicações centenárias com versões eletrônicas: Folha On-line, a BBC, a Agência Estado, só pra citar algumas fontes. Mas também voto a favor da credibilidade para sites coletivos como o Metafilter, o Slashdot e o Digg. Eles têm seu papel nessa coleta diária de informações que se processa no mundo virtual.

    A questão é: Você pode até acabar lendo algo errado publicado pela Folha de São Paulo. Mas a Folha, por sua vez, se apressará na retratação. Confiabilidade é isso. Notícia correta 99% do tempo e 1% pra se retratar, mantendo o compromisso com os leitores.

    Abração!

  3. A Camille Paglia falou sobre isso numa entrevista recente: ela não proíbe os alunos de usarem a net como referência, apenas os alerta que existem muita coisa falsa aqui.

    Eu concordo com você: nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Existe muita informação de altíssima qualidade na internet, não apenas em sites de grandes instituições, mas também em sites pessoais mesmo, gente dedicada a escrever sobre assuntos de seu interesse. Mas é preciso discernimento para filtrar: os usuários da web (odeio a expressão “internautas”) são uma amostra da “falta de noção” geral. Quem repassa todo e qualquer hoax que bate em sua caixa postal nunca vai conseguir fazer a filtragem necessária.

    Eu acho que fóruns, wikis e blogs são fontes importantes de informação, pois existe o contraditório. Se o blogueiro fala uma besteira, é muito provável que alguém o corrija na caixa de comentários…

  4. Perfeito o seu texto, não tem nem o que falar. Também concordo com o Daniel e acho que deveria haver mais retratação em caso de erro, para os blogs e demais publicações online.

  5. Eu já fiz inúmeros trabalhos para uma senhora de uma faculdade de Serviço Social daqui de Manaus quase que inteiramente baseados em informações encontradas na Internet, trabalhos estes que conseguiram nota 10. Se eu sou estudante de Engenharia Florestal, coisa que não tem nada a ver com Assistência Social, ou eu sou um gênio natural em Assistência Social ou existe sim informações de qualidade na Internet, ainda que na área do jornalismo, devido à pressão, haja esculhambação!

  6. Esse tema é muito interessante. Particularmente, acho que cabe à pessoa selecionar os sites que considera confiáveis, usando como pressuposto para essa triagem algumas semanas de acompanhamento do mesmo.

    Outra medida que pode ser tomada para evitar mal entendidos, é usar um agregador de feeds XML: ali a notícia aparece na hora em que saem nos sites, e devido à organização objetiva e integrada, é possível comparar a mesma notícia em diversos sites.

    Enfim, falta de credibilidade existe em todo lugar. Acontece que, como na web qualquer um escreve e publica o que quer, de maneira extremamente fácil, a incidência de porcarias que sai no mundo virtual é infinitamente superior à que sai no mundo real (leia-se jornais e na rádio).

Vai comentar ou ficar apenas olhando?

Campos com * são obrigatórios. Relaxe: não vou montar um mailing com seus dados para vender na Praça da República.


*