Nunca dei muita pelota para álbuns de figurinhas – por alguma razão intangível, só participo da brincadeira na Copa do Mundo. Mas não pude deixar de observar o lançamento futebolístico da Editora Abril, o Desafio de Campeões.
Lançamento com direito a álbuns distribuídos em jornalões dominicais, campanha de TV, concurso cultural e prêmios. Além dos “footcaps”, enormes botões de metal que se transformam em jogo de tabuleiro criado pelo Luiz Dal Monte Neto – especialista no ramo e, durante anos, autor da seção mais legal da revista Superinteressante.
Apesar de tantas inovações, a coleção traz uma pergunta embutida. As 210 figurinhas, com os atuais elencos, estão limitadas a apenas seis campeões nacionais. Mas por que diabos eles foram escolhidos aleatoriamente?
O material de divulgação traz um número que pode servir como resposta: o álbum é um produto licenciado (certamente contratos com alguns campeões não foram pra frente), e reúne equipes que, juntas, têm mais de 55% dos torcedores da primeira divisão. Na prática, por mais que o álbum traga um joguinho interessante e uma promoção embutida, corre o sério risco de ser totalmente rejeitado pelos outros 45% do público-alvo.
Tem Cruzeiro, Santos e Corinthians, que conquistaram o Brasileirão na era “pontos corridos”. Mas não tem o São Paulo, atual campeão – tetracampeão, aliás, assim como Palmeiras e Vasco. E onde eles estão? E cadê a dupla Gre-Nal?
Ah, mas tem ainda o Botafogo, campeão em 1995 (considerarmos a Taça Brasil de 1968?) e o Atlético Paranaense, que ficou com a taça em 2001. Puxa, mas por que não tem o Atlético Mineiro, que também ganhou só uma vez e, ao contrário de Coritiba e Bahia, está na Série A?
Ainda não falei do Flamengo, que está sim no Desafio de Campeões. Agora responda: quantos títulos brasileiros o Rubro-negro carioca possui? De acordo com o álbum, são cinco. Tente dizer isso pro Evilasio ou qualquer torcedor do Sport Recife, time declarado oficialmente pela CBF como campeão de 1987 – o Fla conquistou a Copa União, que apesar de reunir a “elite”, era um torneio paralelo aí. Ou não?
Enfim, eu me arrisco a dizer que, se o Desafio dos Campeões existisse sob a forma de um campeonato, ele seria como a Copa Rio de 1951: um torneio bacana, criado por alguma razão, reunindo times tradicionais. Passam-se os anos e o campeão se auto-proclama “campeão nacional”, “campeão mundial”, enfim.
Claro que a discussão se resolve facilmente: brasileiro só vale com a chancela da CBF, e Mundial, da Fifa. Mas para o torcedor, qualquer polêmica é uma arma em potencial em mesas de bar. Há quem discuta o Mundial de Clubes conquistado pelo Corinthians, em 2000, num empate em 0 a 0 com o Vasco no Maracanã… Da mesma forma, a Portuguesa fez duas excursões à Europa em 1951 e 1954, voltou invicta e conquistou a Fita Azul. Opa, bicampeã mundial!
Falando nisso, o Ubiratan Leal lembrou de um elemento pouco falado após o reconhecimento do “mundial” conquistado pelo Palmeiras, em 1951: dirigentes e torcedores influentes, como o governador José Serra, participaram do “processo político” em busca de uma resposta da Fifa. Que vergonha.
Atualizado, Meu amigo Rafael Lusitano veio com a resposta certa: estes foram os únicos seis times que não assinaram com a Panini, que deve lançar o álbum com os demais clubes (menos esses). Mas que palhaçada!
Em tempo, o Bear deixou um comentário curioso diante do Dia Nacional do Zeca Pacotinho: “com todo respeito, esse post ficou com uma cara de propaganda…”. Provavelmente ele vai pensar o mesmo agora, apesar do álbum ser apenas um pretexto para dizer que Sport e Corinthians podem falar o que quiserem, mas não ganharam nada.
Bom, nem preciso dizer que não ganhei um tostão, nem da editora nem da cervejaria, pra criticar seus produtos… Aliás, se alguém ficar mesmo com vontade de beber ou de colecionar figurinhas depois do que escrevi, é sinal que esse sujeito não precisa de propaganda nenhuma.
De qualquer forma, esse comentário sugere uma discussão interessante: até que ponto um blog pode ganhar ou perder sua credibilidade caso comecem a se pautar por temas envolvendo produtos?
Papo de menino!!! =P
Voltei… estou muito feliz de voltar a escrever… acho q vai representar uma nova fase na minha vida. Bjos
Ah, fala sério, acho quase impossível que este blog aqui algum dia perca a credibilidade! Hehehe! Sério!
E, quanto ao album de figurinhas aí, aposto que o Atlético Paranaense só aceitou participar porque o São Paulo tá de fora, hehehe!
Nem ligo, nunca colecionei essas coisas. Só um álbum de dinossauros da editora Abril, e outro do Chaves, que as figurinhas podiam ser apagadas com borracha, hehe!
Abraços tricolores!
André, há uma diferença essencial entre os dois posts: no anterior, você dá visibilidade ao produto e critica apenas a campanha. Não fiquei menos propenso a tomar a tal cerveja.
Neste, o alvo é exatamente o produto e a informação deste post me dá motivo para não gostar nem deste álbum e nem do outro, tendo em vista a mútua exclusão, por restrições comerciais.
Saudações.
Bacana o texto…bem provocador…rs
Estava procurando mais sobre esse álbum e acheio esse blog. Caro Marmota, a questão do álbum com apenas esses 6 times é a independência. Fugindo do Clube dos 13, que só faz m…alguns clubes brasileiros tem buscado contratos individuais…algo como ocorre na Europa. Por exemplo, existe negociação para os direitos de transmissão de cada time e tals. Aqui, o monopólio é da Globo. Com certeza a Abril pagará mais a esses 6 clubes que a Panini. Sou Flamenguista, mas é claro que grandes outros times ficaram de fora…
Pois é, meu irmão. O Brasil, tão desorganizado como é, não foge à regra no seu futebol. Em 87 a CBF deixou o Clube dos 13 organizar a liga com seus integrantes, enquanto ela organizaria outra com o ‘resto’ dos times do país.
A regra imposta antes do início do campeonato era de que os campeões dos módulos deveriam se enfrentar para decidir qual é o campeão (leis da FIFA proíbem alterações de regras de campeonatos quando eles estão em andamento). O Flamengo, apoiado pela Globo, que comprou o módulo do C13, mais o próprio clube dos 13, declararam este time o campeão brasileiro sem disputar com o Sport, campeão do módulo da CBF.
A CBF marcou dois jogos, um no Maracanã e outro na Ilha do Retiro. O Sport foi para ambos os jogos, mas o Flamengo não apareceu, perdendo por W.O. Houve um processo na justiça esportiva, onde o Sport ganhou, e o Flamengo foi pra Justiça Comum. Perdeu novamente, e foi dada a autorização para a CBF fazer uma nova final, onde Sport e Guarani (campeao e vice) disputaram o título. O Sport ganhou, isso já em 88 (depois das brigas judiciais), e foi homologado campeão pela CBF e pela própria FIFA, tendo sido o representante brasileiro na Libertadores daquele ano.
Talvez o Sport nem fosse campeão mesmo se enfrentasse o Flamengo de Zico e cia, mas regra é regra, e deve ser respeitada. Tanto que o Flamengo perdeu em todas as instâncias cabíveis, e na sede do glorioso da Ilha tem o troféu de campeão brasileiro de 87. E esse ninguém nos tira (embora a Globo tente dizer que não).
Saudações!