O termo “cabala”, de origem judaica, pode ser interpretado, de maneira grosseira, como sendo um código, uma chave, uma lógica que revela mistérios do universo. Quem souber interpretá-la terá subsídios para predizer o que o futuro nos reserva.
Também é usado por pessoas (como meu amigo Narazaki) que valorizam coincidências para garantir coisas menos relevantes para o nosso povo, como por exemplo qual homem levantará a Taça Fifa ao final da Copa.
A Marília reproduziu aqui esses dias uma tabelinha que dá força para uma destas teorias cabalísticas: desde a primeira Copa do Mundo, em 1930, há um visível equilíbrio entre seleções européias e sul-americanas entre as campeãs: em 18 competições, foram nove para cada lado. Levando em conta apenas as últimas doze (por razões absolutamente convenientes), temos uma curiosa alternância entre brasileiros, europeus e argentinos.
Seguindo a sequência lógica, adivinhe quem seria campeão na África do Sul, meu caro Doni? Há um outro registro cabalístico que direciona o título para Buenos Aires: o número 24. Se levarmos em conta que, desde 1930, ao menos Brasil, Itália, Alemanha e Argentina estiveram presentes nas decisões, estas quatro nações poderão atingir o intervalo máximo de 24 anos entre uma conquista da atual taça Fifa. O Brasil quebrou um jejum desse tamanho em 1994. Os italianos, da mesma forma, em 2006. Assim, a Argentina vence este ano e, obviamente, os alemães proporcionariam o novo “maracanazzo” daqui a quatro anos – afinal, se os sul-americanos faturarem agora, a próxima deve ficar nas mãos de um europeu.
Foi graças a uma dessas cabalas estúpidas que os italianos realmente acreditaram no tetracampeonato na Alemanha, há quatro anos. Desde 1970, a Itália chegou a final da Copa do Mundo apenas a cada três copas, vencendo-as alternadamente. Ou seja: chegou e perdeu em 1970, venceu em 1982, caiu em 1994 e faturou 2006. A próxima, portanto, será em 2018 (provavelmente na Rússia), onde será derrotada. Certamente pela Argentina, para seguir a primeira cabala.
Se bem que, na última Copa, meio mundo ignorou a lógica italiana e acreditou em uma pirâmide vagabunda…
A primeira vez que a tal figura circulou pela web foi exatamente antes do Mundial de 2002. Muitos realmente acreditaram que o pentacampeonato estava devidamente agendado, graças a esta incrível sequência. E graças a esta cabala inabalável, 2006 seria o ano do hexa. E mais: as copas seguintes seguiriam a lógica de 1954 e 1950 – ou seja, Alemanha em 2010 e Uruguai em 2014! Enfim, pra pirâmide seguir algum crédito, os alemães podem lembrar que, em 1954, 1974 e 1990, a equipe enfrentou a Iugoslávia. Este ano também – quer dizer, a Sérvia.
Enfim, Argentina x Alemanha, o duelo mais aguardado destas quartas-de-final (pra muitos mais até que Brasil x Holanda) vai confrontar estas teorias. E querem mesmo saber? Esqueçam a pirâmide, a cabala, os economistas, os matemáticos ou qualquer lógica. Nenhuma delas alcança a imprevisibilidade do futebol – a exceção de algumas certezas inabaláveis, como o eterno naufrágio da Espanha.
Atualizado: como lembrou o Rafael Netto nos comentários, a pirâmide estúpida está sendo reencaminhada novamente, dando o título aos alemães. Talvez esta funcione, já que todas as outras não perguntaram pra nenhum germânico se deixariam realmente a Argentina passar por eles nas quartas-de-final…
Essa cabala acaba de acabar! Argentina tá fora!
Como podemos ver, 1954 Alemanha e em 2010, com certeza Alemanha, logo, está correta… kkkkk
Como todo “Repasse!!!” estão ressuscitando essa pirâmide em 2010, providencialmente esquecendo de 2006. Isto é, estão pegando a mesma mensagem feita antes da última copa pra dizer que o Brasil ia ser campeão e só trocando o final…