Blogs: ignorância, revolução ou relacionamento?

O título de mais esse recorte momentâneo de como encarar os blogs no seu dia-a-dia se baseia em três links bacanas.

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O Henrique Costa Pereira trouxe, de maneira clara e divertida, exatamente o que eu penso a respeito de blogs nesse artigo publicado no Webinsider. Antes de ser considerado um impacto violento na comunicação, colocando em xeque práticas jornalísticas consagradas, um blog é, antes de tudo, relacionamento. Assim que você abre as portas para receber gente desconhecida, mas interessada em conversar sobre seus assuntos preferidos, a coisa flui naturalmente.

Essa idéia traz embutida em si uma série de regras, formando o que o autor chama de “código de ética invisível”. Resumidamente, blogs são pessoas, não máquinas. A relação entre nós e essa interface deve ser um prazer, não obrigação. Respeite os visitantes, e deixe claro que todos temos uma vida além da web – se blogar ou ficar no computador for mais interessante que qualquer coisa, procure um médico. Outros mandamentos interessantes: evite informações comprometedoras, barganha de links, discussões desnecessárias, mentiras… Acima de tudo, seja você.

Guarde este link junto com as dicas da Susannah Gardner, publicadas aqui.

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Enveredando por outro assunto, o Claudio Weber Abramo traz à tona em um artigo do Observatório da Imprensa uma discussão que pouco se vê em blogs – talvez por parecer meio óbvia, o que pode ser bom ou ruim. Resumidamente: imagine um internauta qualquer, procurando qualquer informação sobre “sindicatos” no Google, por exemplo. Ele pode encontrar um site de órgão oficial, um jornal online, ou (bem provável) um blog.

O Google não vai separar o joio do trigo: quem classifica a informação ou opinião como relevante ou lixo é o internauta. Há muitos blogs que se preocupam ao máximo com a isenção, a checagem, a apuração de notícias, a contextualização correta… Outros, no entanto, vestem a camisa de sua própria causa, seu partido, suas convicções. O autor não cita em seu artigo, mas incluo aqui uma página qualquer, que pode trazer algum dado falso, manipulado. Novamente, quem deve julgar se aquilo faz sentido ou não é o cidadão que estiver lendo.

Assim, Abramo pede atenção a todos que analisam os meios de comunicação com o que ele chama de “disseminação da irresponsabilidade”, que complementa a frase do jornalista Cláudio Abramo: “a ignorância é o bem mais distribuído do mundo”.

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Por fim, a jornalista Bárbara Axt fez em seu blog uma pergunta, hmmmm, difícil. Os blogues estão mudando a maneira como se faz jornalismo e a maneira como as pessoas se relacionam com a informação? Deixei lá, de maneira bem resumida (e talvez confusa) um viés de resposta. Baseado minimamente na opinião acima, acho que nossa frágil cultura digital e o monopólio das comunicações abafam essa revolução.

Primeiro. Não estou me referindo ao “blogueiro-jornalista”, que entendeu como funciona um blog e conquistou seu espaço, independente de seus ideais democráticos. Mas ao cururu que recebeu por e-mail aquele apelo ou promoção fake, aquele texto que não é do Veríssimo… Enfim, me refiro à bobagem que vai parar na Internet e que, no meio do mais puro entretenimento, se transforma em verdade absoluta. Isso infelizmente só vai mudar quando o conceito de “inclusão digital” for além de um simples “entregue um computador barato e uma conexão pro nosso amigo aí”.

Segundo. Sabe como a maioria das pessoas ainda se relacionam com a informação? Claro que sabe. Agradeça aos Marinho, Frias, Saad, Mesquita, Sirotski… Ou aos filhos de Deus que, com muita fé, estão chegando ao segundo lugar. De uns anos para cá, as famílias estão perdendo força, abrindo espaço para empresas telefônicas, por exemplo.

Claro que, no futuro, qualquer mané pode abrir seu celular (ou genérico) e participar de uma incrível via de mão dupla das comunicações a partir de uma rede pública sem fio, sendo capaz de distribuir informação como qualquer um e ter sua voz garantida, podendo ganhar força e dar a tão sonhada independência à informação. Nesse cenário, responda: onde estarão as empresas que ainda monopolizam o poder da imprensa?

A maioria certamente gostaria de vê-los lá mesmo, onde você deseja. Também torço pela revolução, mas para isso acontecer, aquele cururu que se interessa apenas por entretenimento também precisa pensar, e para isso os interesses… Ok, é melhor parar por aqui. A discussão vai longe… Muito longe.

(Postado em 22/03/2006)

André Marmota dialoga muito com o passado, cria futuros inverossímeis e, atrapalhado, deixa passar algumas sutilezas do presente. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (5)

  1. Acho que, atualmente, blogs são ignorância e relacionamento. Mesmo que relacionamento ruim, mas ainda sim relacionamento.

    Quando os “cururus” que você citou acordarem, aí vai virar revolução.

  2. É interessante esta revolução dos blogs. Já virou até estudo para doutorandos.
    Aqui nos EUA já observo algo que ainda não havia visto sendo praticado no Brasil. As empresas estão colocando um link “blog” em seus menus de seus websites, pois estão utilizando esta ferramenta como uma forma de interagirem com seus consumidores/fornecedores.
    Como disse um cliente meu, I also want a blog because it’s hot! E não é que ele possui artigos fantásticos mesmo?
    Beijão

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