Blog-moleque e post-arte não ganha campeonato?

BloguiadoAgora que já estou devidamente instalado, preciso confessar minha preocupação diante da expressão que define o mais novo portal de blogs do Brasil: “reunindo blogueiros profissionais pela primeira vez”.

Isso quer dizer que agora eu sou um blogueiro “profissional”. Até ontem, eu era mais um desses coitados, que fazem dos seus diarinhos pessoais a Casa da Mãe Joana. Compartilhei esse comentário com o Edney, que invocou uma expressão atribuida ao Mr. Manson: “acabou-se o tempo do blog-moleque, do post-arte”.

O que me assusta é saber que esse rótulo transforma as pessoas. Preocupadas com resultados, acabam se levando a sério demais.

Ser “blogueiro profissional” (ou “problogger”, que é bem mais legal) é escrever pensando nos números. Nada contra essa prática: quero mais é que todos que procuram esse caminho transbordem a conta bancária. Agora, com tanta gente em busca das mesmas coisas, tenho uma visão muito pesada sobre o futuro da “blogosfera”, caso ela “amadureça” por esse viés: isso aqui está se transformando em uma Serra Pelada, com gente demais se acotovelando atrás de alguns tostões.

Então cá estou, blogueiro profissional, buscando formas de “monetizar” meu conteúdo; adotando todas as regrinhas de “Search Engine Otimization” para fisgar consumidores; patrulhando os aproveitadores – afinal de contas, além de ser assinado, conteúdo semelhante na rede atrapalha meu posicionamento no Google. Sem essa de compartilhar idéias só para conhecer gente nova ou simplesmente para marketing pessoal: agora, eu quero é ganhar dinheiro. Vou justificar minhas ações na cartilha da ética (e outras totalmente justificadas), mas vou seguir mesmo a lei da selva. E salve-se quem puder.

Tenho medo disso. É o mesmo discurso atribuído a outras áreas competitivas (no caso dos “jornalistas”, é exatamente igual).

Enfim, agora sou um profissional. Mas da mesma forma que eu escolhi minha carreira, não vejo como não manter os mesmos objetivos de 2002, quando eu não passava de mais um amador no fundo do quintal: escrever o que eu penso, sem me preocupar em agradar a maioria, nem em levar a sério o que estou fazendo, como se a minha vida dependesse do blog.

Diante do rótulo, minha definição romântica de “blogueiro profissional” é a seguinte: agora não distribuo mais meus panfletos na frente de casa, mas sim em um lindo stand dentro de um movimentado shopping center. Você pode chegar, pegar um e conversar comigo. Mas também pode passar de longe (nem precisa acenar) e continuar suas compras. E a vida segue.

André Marmota acredita em um futuro com blogs atualizados, livros impressos, videolocadoras, amores sinceros, entre outros anacronismos. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (23)

  1. Mas tudo isso se define pela atitude do blogueiro. Vc pode estar num estande de Shopping, no quintal de casa, ou num grande bar cheio de gente para conversar, não acha? E o melhor ainda: com a conta paga

  2. Olha, você resumiu muito bem a idéia que eu tenho sobre essa coisa toda. É óbvio que fazer parte de uma iniciativa como essa é coisa das mais interessantes, mas é um grande perigo entrar nessa onde “vamos fazer tudo para favorecer aos anunciantes”. Talvez eu seja um romântico, mas ainda acho que dá para encontrar-mos o equilíbrio nisso tudo.

  3. André:

    Desculpe polemizar. Aqui na terra do tio Sam ninguém tem vergonha de trabalhar no que seja para ganhar dinheiro. É até gozado ver pessoas que pediam pra empregada trazer o cafezinho trabalhando na faxina aqui.
    Outro lance é a ênfase ao empreendimento individual e à competição, que não excluem esforço coletivo. Principalmente na República da California, cada um é dono do seu nariz. Ser original é legal.
    Nunca parei e escrever minhas bloguices desde que comecei. Torço para você e para ao outros/outras que conheço de blog. Blogar direito é uma ocupação de tempo integral sim. E olha que tenho filho aborrecente, marido cientista, minha mãe, meus achaques de saúde e chiliques… Casa, jardim cachorro e gata. Quem disse que trabalho é ruim?

  4. Não acho estranho pessoas talentosas passarem a ganhar uns trocados por causa de seu trabalho, de qualidade reconhecida por meio mundo e mais um pouco. Blogueiro profissional? Evolução natural da coisa.

    Parabéns pela galgada na escala blog-evolutiva então! Até que enfim, hein?

    Abraços!

  5. Bem, eu não compartilho da crença de que ser um problogger leve a diferenças tão significativas no texto. Você foi convidado para essa iniciativa pela qualidade de seus textos, então continue escrevendo da mesma maneira de antes. Garanto que leitores não vão faltar.

  6. Já te disse isso, eu acho, mas se todas as pessoas pudessem ser remuneradas pelo talento que têm, todos seriam bem mais felizes. Eu tenho essa sorte (embora minha remuneração esteja baixa, digamos assim, pela qualidade dos livros que tenho de melhorar) e fico feliz em saber que você, agora, é um blogueiro pro! Vai ser bem-sucedido, não tenho dúvidas!

  7. Nova fase, novos desafios.

    Na psico dizemos que: variação é criatividade, seleção é aprendizagem.

    Então muita variação por aqui, para que a selação seja só do crem de la crem (ou qualquer coisa assim, dita com biquinho pra ficar melhor…)

    bjo

  8. Escreve bem? Sim. As pessoas que lêem gostam? Sim. Então por que é errado transformar hobby em dinheiro?!

    O que me preocupa é quando o blogueiro esquece princípios básicos com o intuito de encher os bolsos maliciosamente. Exemplos não faltam, basta perguntar por aí.

  9. Também concordo com a visão de que ganhar para escrever não deve ser motivo de desculpas ou de vergonha. Antes disso, deve ser uma busca legítima dos que se interessam por isso. Afinal, um escritor da mídia tradicional não ganha para escrever? Por que não os blogueiros?

  10. Tendo a concordar com o pessoal dos comentários que não há mal nenhum em ganhar dinheiro se a pessoa escreve bem, tem uma linha de trabalho legal com o blog etc e tal. Mas acho bem chata essa onda que vem crescendo de “marketing blog”, que faz de tudo pra ranquear alto no Google e fica buscando meios marotos de monetizar tudo. O que é mais interessante no mundo-blog é justamente a possibilidade de escapar desse modelo parasitado pela necessidade de lucros publicitários que engessa a dita mídia tradicional. Se a galera embarca nessa, os blogs entra na lógica chatíssima de subir audiẽncia para conquistar anunciantes.

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