Quando Don Diego vestiu a camisa da seleção brasileira, num comercial de guaraná às vésperas do vexame canarinho em 2006, o segundo melhor jogador de futebol de todos os tempos anunciava viver um “pesadelo”. É até risível pensar isso de um homem que, em 2004, atravessou problemas que começavam com excesso de peso e terminavam em dependência química, levando a imprensa cravar manchetes do gênero “Maradona à beira da morte”. Não à toa, muitos argentinos o enxergam como deus.
Mas enfim. Maradona já foi “pibe de oro”, craque de bola, capitão da seleção, amigo de Fidel e de Hugo Chavez, ex-viciado em cocaína, ex-ipertenso e quase morto, ex-apresentador de TV, dirigente vitalício do Boca Juniors e ídolo de uma religião. Nos últimos meses, assumiu um insólito desafio: treinar “La Selección” e conduzi-la ao tricampeonato mundial de futebol na África do Sul.
Mas ao contrário do treinador de seu maior rival (também um ex-jogador sem experiência anterior como técnico de uma grande seleção), Deus Diego está prestes a conduzir um milagre: deixar a Argentina fora de uma Copa do Mundo, algo que não acontece desde 1970. Depois da derrota para o Brasil em Rosário, as chances matemáticas de garantir uma das quatro vagas era de 60%, segundo Tristão Garcia. Veio a derrota pro Paraguai e as chances caíram para 26%.
Há quem ignore a calculadora e preveja um duelo faiscante no mais antigo e tradicional clássico sul-americano, entre argentinos e uruguaios, na última rodada das eliminatórias (imaginando que o time vença o lanterna Peru antes). E por mais que Don Diego não tenha lá muito traquejo como treinador, Carlos Bilardo, seu ex-treinador em 1986 e atual diretor de seleções da AFA, garantiu que ele fica. “Só vai sair se vierem Jesus Cristo ou a Virgem Maria”, diz (ou seja, alguém do mesmo patamar de Maradona, segundo os argentinos).
Para nós, já com o passaporte carimbado para o Mundial (e como diria Galvão, ganhar é bom; da Argentina é ainda melhor!) e com um time aguerrido e focado como há muito não se via, assistir ao pesadelo alviceleste certamente nos divide. Confesso que, num primeiro momento, imagino o quanto seria divertido vê-los disputando a repescagem contra algum time qualquer da Concacaf (hoje seria a Costa Rica, que não é aquela baba). Ou melhor: simplesmente acompanhar ao Mundial do sofá, diante da TV…
Mas pensando bem, preciso admitir que nossos vizinhos são muito mais apaixonados pela pelota do que nós. Passionais. Dramáticos. Loucos. Já teve a chance de visitar Buenos Aires? Pois quando isso acontecer, diga a eles que é brasileiro. Dificilmente haverá hostilidade: a primeira reação normalmente é a de respeito e alegria, como se quisessem celebrar o bom futebol – algo que, para eles, é uma característica comum entre as duas nações.
E aqui ignoro o argumento financeiro, envolvendo a Fifa, a imprensa esportiva ou empresas de qualquer ramo à espera da Copa, loucos para associarem suas marcas à paixão pelo futebol, facilmente resumido em um “Copa sem Argentina não dá dinheiro”. A bem da verdade, Copa sem Argentina é deixar do lado de fora gente entusiasmada que vê um jogador excepcional e, ao invés de vê-lo apenas como um promissor garoto-propaganda, o chama de deus.
E a ausência destes apaixonados, em detrimento ao negócio puro e simples, pode ser chamado de pesadelo, não?
(Este comercial da cerveja Quilmes, em alusão ao Mundial da Alemanha em 2006, consegue representar bem essa paixão argentina pelo futebol. Não te dá um pouquinho de inveja?)
O pior de não ter a Argentina na Copa é NÃO PODER GANHAR DA ARGENTINA NA SEMI-FINAL. 😀
Tenho até medo de dizer, mas a péssima campanha da Argentina nas iliminatórias me deixa triste. Na minha cabecinha, Copa do Mundo sem Argentina não tem a menor graça. Queria ver a Argentina se dando mal, mas já lá na competição. Nhé…