Janeiro de 2003. O verão brasileiro tem um símbolo nacional: o cabelereiro carioca Marco Aurélio Silva da Rosa, que ficou conhecido em todo país sob o singelo pseudônimo de Lacraia, dançarino (a) que rebolava freneticamente ao som do inesquecível: “Eguinha, Pocotó”, de MC Serginho, um dos maiores ícones da incrível capacidade nacional de produzir músicas de qualidade questionável.

Seis meses depois, o assunto é o mesmo, mas o sexo mudou. Nunca falou-se tanto em lesbianismo como nos últimos meses. Graças a novela das nove da toda-poderosa, o tema veio à tona e vem ganhando espaço na mídia, propositadamente ou não. Tudo começou com o affair-vai-beija-logo-ou-só-vai-ficar-nesse-lesco-lesco entre Clara e Rafaela, personagens interpretadas pelas belas Aline Moraes e Paula Picarelli.

O lesbianismo escancarou as portas de todos os lares e deixou pasmos as tradicionais (e hipócritas) famílias de classe média. O caso ganhou repercussão e as duas lucraram com isso. Festas, fotos para revistas, propostas para ensaios em revistas masculinas, presenças freqüentes dos programas da tarde e até um famoso beijo que seria dado na MTV Brasil atiçaram os mais fanáticos pela telinha.

Entretanto, para decepção geral, o beijo tão divulgado não veio. Mas sim uma bitoca muito da sem-graça entre Júnior e Sonia Braga. Como eu não vi o VMB, não perdi muito tempo. Mal sabia eu, que dois dias depois, assistiria ao vivo outro beijo, este sim, real entre duas mulheres. Aliás, três. Era o show de abertura do VMA (Video Music Awards, que é a premiação da MTV norte-americana) e sentei na minha poltrona, confortavelmente, agradecendo pela primeira vez ter MTV Latina no meu sistema de TV paga.

O show era da Madonna, mas quem entra no palco é a chata Britney Spears. Vestida de noiva, ela saiu de um bolo e cantou “Like A Virgin” (pensei comigo, lá vem ela de novo com esse papo de virgem). Três minutos depois, a ex-companheira-depois-inimiga-declarada-e-agora-amiguinha-de-novo Christina Aguilera entrou no palco, também vestida de noiva, e cantando a mesma música. De repente, uma pausa e Madonna entra no palco. Toda de preto, cantando Hollywoood.

E não é que no meio da música, Madonna se aproxima de Britney e tasca um beijo de língua na musa dos teens yankees? E mais. Não é que depois, ela ainda beija e Christina Aguilera? Meu Deus, este era o beijo que a MTV Brasil tinha prometido e não vi. Era tudo que faltava para sair esta coluna. É a segunda vez que uma festa da MTV norte-americana tem cenas explícitas de mulheres no lesco-lesco. Há alguns meses, as integrantes da dupla T.A.T.U. beijaram-se em meio a muitas outras mulheres durante uma música cantada pela dupla no MTV Movie Awards.

Mais do que nunca o lesbianismo virou hit. Venero as mulheres que têm coragem de assumir e encarar os preconceitos. No último mês, a Playboy publicou uma boa matéria sobre o assunto, que sempre foi visto como uma fantasia masculina e não uma opção sexual feminina. Pois é, rapazes, para nossa tristeza (afinal sobram menos mulheres no “mercado”), agora é que são elas…

Só tenho uma dúvida. Será que pelo fato de a nossa sociedade ser tão machista, as mulheres têm mais facilidade e coragem em assumir o homossexualismo, principalmente à família, do que os homens? Ou a dificuldade é a mesma e esses casos citados acima são apenas exceções?

Narazaki, que já levou muitos foras de “bolachas” nas baladas, escreve neste espaço sempre que surge um assunto polêmico.