Viagem (bem loooca) aos anos 80

Não sou o tipo de gente que se pode chamar de vanguarda. Não sou um cinéfilo de carteirinha, cresci em frente a TV, “a imagem da besta”, como diz aquele cartaz. Nunca fui clubber, algumas vezes frequentava os bailinhos da escola. Nada de drogas, o máximo que consegui foi ficar mais tonto depois de três copos de Sangue de Boi (Bumbá). Também não aprendi a tocar nenhum instrumento musical, mas tudo bem: não entendia bem aquelas canções estrangeiras mesmo.

Detalhes imperceptíveis que não são capazes de me tirar da cabeça o fascínio por todo tipo de coisa produzida naquele período da minha vida, uma época que batizamos atualmente de “anos 80”. Um tempo em que era impossível passar por um daqueles bailinhos sem ouvir algum hit do New Order. Se você faz parte deste grupo, vá atrás de A Festa Nunca Termina (24 Hour Party People, Inglaterra/2002) – aliás, bem que podiam lançar o DVD no Brasil.

O filme se passa em Manchester, Inglaterra, a partir de 1976. A data remete ao primeiro show de uma bandinha emergente, visto por um punhado de futuros notáveis. Quem era? Um tal Sex Pistols. Tal episódio marcaria uma revolução musical na cidade – o movimento Madchester, segundo informações do especialista DilmarX. Culminou com a criação da Factory Records e a aparição de bandas como New Order – aquela do bailinho – e Happy Mondays, que nem todo mundo gostava (e vai continuar não gostando depois do filme).


Ian Black e DilmarX frequentavam os “Haciendas” paulistanos, choraram quando contaram a eles que o cara do Joy Division morrreu e vão montar a trilha do filme usando P2P – se o CD saísse pela Factory, talvez eles comprassem na loja

Mas esse é o lado mais psicodélico do filme. Na primeira parte, outro personagem toma conta das ações: Ian Curtis. Falecido em maio de 1980, Curtis foi o vocalista da banda Joy Division, responsável pelo pontapé inicial não apenas da Factory, mas principalmente de um legado que vai além da simples compreensão das suas letras ou do seu estilo underground. Mesmo quem não faz parte da legião de fãs da banda sai do cinema cantarolando “love… Love will tear us apart, again…”.

O fio condutor dessa história é o jornalista – e um dos criadores da Factory – Tony Wilson. Um figura que se acha poderosíssimo, talvez por isso, tenha sido interpretado por um comediante: Steve Coogan. Mesmo sendo narrada por um cara que se diz jornalista, a história está longe de ser um documentário. Uma das frases, que compõem a divertidíssima linguagem do filme, resume o teor de romantização da história: “entre a versão oficial e a lenda, publicamos a lenda”.

A Festa que Nunca Termina, oficialmente, acabou em 1992, com o fim da Factory Records e do Hacienda, casa noturna que simbolizou esta fase. Mas ainda é capaz de sensibilizar nostálgicos como eu, DilmarX e Ian Black, que ao lado da Nikki, da Bia e da Elisa, se divertiram a valer com a fita na última sexta-feira. Mesmo sem ter tomado um comprimido de ecstasy sequer.

Não que eu tenha visto.

Veja mais: Site oficial do filme e crítica da Folha.

(Postado em 17/06/2003. Dedicado ao Doni.)

Comentários em blogs: ainda existem? (2)

  1. Esse filme era um dos que eu “sempre” quis assistir. O mais incrível é que ele passou já no Telecine (sim, tenho certeza pq fui conferir). E mais incrível ainda é que achei muito chato… Pensei que seria melhor, gosto de filmes ditos “diferentes”, mas não consegui gostar…

    Realmente não sei se saiu em DVD. Se vc diz que não, provavelmente não saiu… uma pena pq aí eu teria a oportunidade de tentar assitir de novo e ver que minha concepção inicial estava errada e, de repente, o filme é uma obra de arte. Já aconteceu várias vezes isso, hehehe!

    Abraços!

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