Um mágico de araque em Paris

Olha, lembrei de uma história engraçadolha durante a semana, justamente quando a migração para o Interney Blogs completou dois meses – e, como eu previa, não houve grandes mudanças de ordem editorial ou arroubos de grandeza. Algumas pessoas muito próximas confidenciaram que sentiriam falta do bom e velho MMM, do jeito que era conhecido em seus primórdios.

Como naquele filme Mensagem pra Você – que, coincidentemente, diz respeito a relações que começaram pela Internet. Na história, a doce Meg Ryan era proprietária da simpática livraria infantil “The Shop Around the Corner”, mas é surpreendida pela chegada de uma megaloja nas redondezas. A metáfora é óbvia: antes do lançamento do portal, era como se este espaço deixasse de ser uma livraria de bairro, onde todo mundo se conhece, para virar um conglomerado.

Lembro que, no primeiro dia de portal, fiz uma comparação parecida: assim que o endereço mudou, passei a distribuir meus panfletos vagabundos não mais na frente de casa, mas em um stand dentro de um movimentado shopping center. A opção é sua: você pode chegar, ler um e conversar comigo, ou passar de longe (nem precisa acenar) e continuar comprando. Exatamente como um japonês estranho que encontrei na França, em 2004.

Era uma tarde muito agradável de outubro, estava ao lado do Lello e da Lu. Já tínhamos caminhado bastante nos arredores do Louvre, Jardins des Tuileries, Place de la Concorde, Champs Elysees… Até então, não tínhamos comprado nada. O problema seria facilmente resolvido nos grandes boulevares.

Então entramos naquele complexo gigantesco abarrotado de gente, onde não se sabe onde começa a Lafayette ou onde termina a Printemps. Pra mim, não fazia a menor diferença: eram cento e duzentas lojas de roupas, perfumarias… Todas separadas por suas marcas valiosíssimas. A organização era a mesma na área de brinquedos, em um dos subsolos. Estava me divertindo com catálogos de Lego, Playmobill… Então encontrei uma mesinha discreta, e atrás dela um japonês sorridente, de camisa branca.

– Bonsoir, monsieur, uh la la bla bla bla sil vous plait!

Ora vejam, um japa françuá! Bem que tentei enrolá-lo com o bom e velho “sorry, je nepá lepá francês”. Não adiantou, o japinha enrolava bem o inglês. Mais do que isso, estava muito claro o que ele desejava fazer: magiquinhas, iguais aquelas que você já viu em qualquer centro comercial bacana.

Quer dizer, iguais não eram. Os tais kits eram muito mais bonitos e impactantes. Algumas delas, muito bem executadas pelo nipônico, realmente me encantaram os olhos. A última, que mais me impressionou, é muito idiota. O truque consistia em fazer com que algumas moedas de euro sumissem, e logo voltassem. O mestre japa foi tão simpático, e aquilo era tão bacana (sei lá, devia ser porque era Paris) que acabei comprando uma caixinha, com a mágica das moedas.

Quando descobri qual era o pulo do gato, fiquei muito irritado. Apesar da caixinha bonita, do saquinho de veludo e toda a apresentação, o segredo era muito bobo. E aquilo tinha custado vinte euros! Vinte! Sessenta reais por uma porcaria, uma tosquice, um truque idiota envolvendo sumiço de moedas. Japonês maldito, conseguiu fazer com que muitas delas saíssem da minha carteira, direto para a dele.

Mas como já tinha comprado, tratei de olhar o lado bom da história. Aquele japa virou um personagem marcante em um dos momentos mais legais da minha vida, lembro daquele sujeito até hoje. E ele era um cara dentro de uma megaloja, fazendo seu trabalho, conversando com os fregueses, mostrando suas habilidades, seu produto…

É assim. Independente do endereço, meu objetivo é igual ao do mágico de araque parisiense: participar, ainda que por alguns minutos, da vida de uma ou outra pessoa, fazendo magiquinhas baratas dentro de uma megaloja. Já vou me dar por satisfeito se ao menos uma pessoa disser: “Mister MMM, seus truques podem não ser geniais, mas você é um grande mágico”. Abracadabra!

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