Historicamente, o meu primeiro dia do ano é um negócio bem xexelento. Enquanto as outras famílias saem de casa para fazer churrasco, a nossa, que apesar de vir de longe não consegue congregar todas elas nem no primeiro dia do ano, fica na companhia da vó, que mesmo forte aos 86 anos, não tem muito pique para sair de casa.

É até melhor assim, ficamos os cinco, sossegados, sem ter que ficar ouvindo repetidas o sucesso do momento: A História do Tico Louco, com o cantor regionalista Baitaca. Um primor de música! Evidentemente, não é todo mundo que prefere canções gauchescas: a gurizada está bem longe de se acostumar a esse tipo de som.

Foi assim que, durante à tarde, depois de cochilar com o discurso do Lula no congresso na TV, resgatei o meu radinho - o walkman, não o de ondas curtas - e sintonizei na Rádio Atlântida, que até bem pouco tempo era tão pop quanto a Jovem Pan ou a TransAmérica. Mas há uns dois anos, o perfil da emissora mudou: passou a valorizar mais o rock, em especial as bandas da região.

Nomes como Acústicos e Valvulados, Tequila Baby, Charles Master e Papas da Língua são muito comuns na programação - algumas delas lembram a boa fase do Engenheiros do Hawaii ou o Nenhum de Nós - que aliás segue firme por aqui também. Entre tantas músicas, uma se destaca e é considerada até o tema do verão, colocando qualquer jaseinamorá no chinelo: chama-se No Balanço da Rede, interpretada por um tal Armandinho.

É um daqueles reggaes bem "Planta e Raiz", mas um pouco mais bacaninha. Bem facinho decorar o refrão: "É no balanço da rede / É no balanço do mar / Eu vou plantar uma semente / É a semente da paz.... Além do inseparável "uuu-uuu" entre uma frase e outra. Trilha sonora perfeira para relaxar e lembrar que, durante todo esse feriado, não fiz absolutamente nada! Mal tive forças para dar risada da propaganda do jornal Zero Hora no rádio:

Picolé sem pauzinho derrete na mão
Frescobol sem bolinha não tem condição
Surfista sem prancha só pega Jacaré
Caniço sem anzol não pega nem bicho de pé!
Tem coisas no verão que não podem faltar
Cultura, informação, sol e banho de mar...
Férias sem Zero Hora não dá pra acreditar!

Depois de ouvir, não dá mesmo para acreditar... A noite terminou com os meus primos voltando lá de fora, depois de um dia cansativo. Ligamos para um dos inúmeros "trailers" da volta e encomendamos lanches, daqueles portentosos que fast-food algum é capaz de superar. O meu é o "xis-coração", que além do miúdo de frango, vem alface, tomate, ovo, presunto, queijo... Tem até pão.