Já tinha programado meu domingo de folga: permanecer amarrotado no sofá da sala, de pantufas e pijama, acompanhando o GP dos EUA de Fórmula 1 e carregando alguma expectativa (ainda que ridícula) a respeito do desempenho da Ferrari. A programação caiu rapidamente, graças a um convite irrecusável: assistir à quarta etapa da Copa Nextel Stock Car, em Interlagos. E o mais legal: o convite veio do Pimentel, o garoto-propaganda da empresa patrocinadora do campeonato!
Não só aceitei o convite, como também vislumbrei a chance de entender um pouco os objetivos do Pimentel. Lembro que, durante o BarCamp paulistano, em março, o case da Nextel foi duramente criticado: normalmente, um blog reforça a identidade e a opinião do autor, promovendo ainda um forte relacionamento com seu visitante. Sempre que essa regra foi quebrada, e um “blog fake” é descoberto, a imagem para a empresa é sempre negativa.
Antes mesmo de encontrar o Pimentel em Interlagos, tive a feliz oportunidade de conversar sobre isso com a turma da agência responsável, que efetivamente mete a mão na massa. Ficou bem claro, nesse bate-papo informal, que a proposta nunca foi “enganar” o público. Pimentel é, essencialmente, uma “caricatura viva”.
Por esse prisma, o que acontece quando alguém, seja autêntico ou um personagem muito bem definido, decide interagir com outros blogueiros? É como se o “Baixinho da Kaiser” ou o “Garoto Bom Bril” decidisse montar um blog e entrar na dança da blogosfera, por exemplo. Para isso, Pimentel precisa encarnar e participar “de verdade”. E foi exatamente isso que testemunhei em Interlagos, assim que apertei a mão desse alto, sorridente e simpático assessor comercial que decide criar um blog para vender planos e aparelhos da Nextel.
Ainda falando em desconfiados, experimente conversar um pouquinho com algum fã de automobilismo a respeito da Stock Car. A categoria existe há 30 anos, época em que apenas os Opalas da Chevrolet e pilotos apaixonados. Nos últimos anos, no entanto, a Vicar Promoções, responsável pela categoria, ganhou aporte publicitário e visibilidade em TV aberta – e não há como desvincular a imagem de Galvão Bueno e seus filhos pilotos nessa análise. O volume financeiro que circulou em torno da Stock em 2006 foi de R$ 260 milhões, e graças a um número cada vez maior de ações de marketing e de relacionamento, a quantidade de empresas (e grana) envolvidas só tende a aumentar.
Em compensação, os aficcionados mais exigentes (e me corrijam se eu estiver enganado) se preocupam com o futuro dessa Stock cada vez mais espetáculo, mas pouco desenvolvida tecnicamente. Se nos primórdios uma competição deveria se preocupar essencialmente com o desenvolvimento dos carros, dos pneus, dos pilotos, do regulamento… Fica a impressão que a essa parte está em segundo plano: o mais importante é o show. Como se ninguém estivesse ali pela Stock, mas pelo “business”. Responda com sinceridade: se um dia a Globo decidir cancelar a transmissão da prova, minando tantas oportunidades e afugentando ações promocionais e o dinheiro das empresas, o que vai acontecer com o lado esportivo da Stock Car?
Mas enfim. Enquanto isso não acontece, vamos aproveitar, né não?
Já tinha ido a Interlagos como espectador nas arquibancadas, ao lado da massa, em uma etapa da F-Truck (que, diga-se, já se tornou bem mais popular que a Stock). Por isso toda a sensação de circular nos camarotes acima dos boxes foi uma tremenda novidade. Descobri muita gente simpática ligada aos patrocinadores, todos misturados a um ou outro piloto que aparecia rapidamente (como o lendário e venerado Ingo Hoffmann), os quase-famosos de sempre (como a caminhoneira e ex-rainha do MST Débora Rodrigues), além de uma horda de anônimos, vestindo a camisa de algum fabricante de remédio genérico e, em muitos casos, perguntando “o que diabos vai acontecer ali”. Sem falar nas simpáticas modelos, que sorriem até para um sujeito esquisito como eu.
Cheguei ao autódromo tarde o suficiente para perder uma batida envolvendo quatro pilotos da Stock Light, entre eles o apresentador Otávio Mesquita. Imagino que, para os fãs, esse nome seja tão “ame ou odeie” quanto o atual campeão da categoria principal, Cacá Bueno. Que, diga-se, também compete na TC2000 – espécie de “Stock Car argentina”, que realizou pela primeira vez uma etapa em São Paulo. A dinâmica da prova em castelhano fez com que eu percebesse como era a circulação de pessoas pelos camarotes: aglomeração para enxergar a pista? Só na hora da largada. Depois, ninguém dá bola.
Dito e feito: aproveitei a ausência de gente para garantir um lugarzinho no fim da reta dos boxes para registrar o início da prova principal. Vice-campeão em 2006, Antônio Jorge Neto largou na primeira posição, e não saiu mais dela até o fim da prova. “Vai ser essa lenga-lenga até o fim da corrida”, imaginei.
Que nada. Logo a turma da largada voltou a se juntar próxima ao S do Senna. Era David Muffato, que saiu da pista, avançou pela área de escape, bateu no guardrail e parou após o solavanco. Sem sair do carro, teve que ser socorrido por uma ambulância – que aparecia em poucos flashes nas imagens geradas para os telões. Só em casa, horas depois, soube que ele e sofreu um acidente no “S do Senna”, teve de ser removido por paramédicos, com o pescoço imobilizado, mas logo se recuperou e está pronto para mais uma.
Apesar de nem todo mundo dar bola para a prova – Luciano Burti, que teve problemas no câmbio, saiu correndo de helicóptero para comentar a Fórmula 1 na Berrini – , as emoções não pararam aí. Cacá “ame ou odeie” Bueno estava em terceiro, logo atrás de Thiago Camilo, atual líder da temporada. Nitidamente mais lento, Camilo viu o filho do Galvão travar um duelo que empolgou a audiência. Veio a arriscada ultrapassagem, que lhe garantiu o segundo lugar da prova, além de alguns gritos, aplausos e, evidentemente, comentários do tipo “daqui a pouco ele vai rodar ou quebrar”.
Quem se deu mal mesmo foi Camilo, que ainda viu passar o novato Marquinhos Gomes e o veteraníssimo Ingo Hoffmann. Mesmo com o quinto lugar segue na ponta da tabela, mas a disputa do título segue embolada – certamente a maioria dos espectadores daquele camarote nem se importa em saber disso…
Ah, sim: o autor do convite reapareceu já na frente do portão sete de Interlagos, entusiasmado após ser reconhecido nas arquibancadas de Interlagos e ter sido chamado de surpresa para entregar o prêmio para Thiago Camilo, que anotou a volta mais rápida. Aproveitei para agradecê-lo novamente pelo convite e por toda sua simpatia e alegria. Em um mundo onde quase tudo soa artificial, fiquei mesmo feliz em cumprimentar novamente o Pimentel – e perceber que ele é de verdade.
E o Massa? – Ah, verdade, tivemos mais um GP de Fórmula 1 e não teve parte 7. O que posso dizer? Lewis Hamilton venceu a segunda, dando um “passa fora” no queridinho Alonso em Indianápolis, deixando-o (chateado) em segundo. Massa fez o que pôde para segurar Raikkonen, e conseguiu um pódio sofrido. Mas olha, se nada mudar no retorno às pistas européias, posso dizer que já perdi a aposta.
(Para entender a aposta, leia a parte 1. E se quiser mesmo acompanhar e entender de verdade o mundo do automobilismo, leia o Livio Oricchio, o Fábio Seixas e o Flávio Gomes).
Acompanhei o Emerson Fitipaldi e depois mais nada. Achei o máximo a figura de linguagem :amarrotado no sofá:
Naquele tempo distração de paulista era ir ao aeroporto tomar cafezinho. Será que você chegou a fazê-lo?
Hora de batente.