Eram quase onze horas da noite. Já estava com a minha pantufa pés-de-marmota, pronto para curtir altas horas com o travesseiro. Mas eu tinha esquecido o maldito celular ligado, algo que não costumo fazer num final de semana de folga.
– Como assim você não vai no aniversário? Vai todo mundo, será um barato! Melhor que a do ano passado! Ah, deixa de ser bobo! Ainda tá cedo! E é sábado à noite, todo mundo espera alguma coisa, tudo pode mudar… – disse, não necessariamente com essas palavras, o Leandro Bebê Diabo Leporello, vulgo Lello.
Tá bom, tá bom. Tirei a pantufa, achei a minha camisa balinesa comprada em Florianópolis, peguei os documentos e segui de Marmoturbo rumo a Vila Madalena. Foram quarenta minutos para atravessar a cidade e chegar na Cardeal Arcoverde, em Pinheiros. Mais incríveis quarenta minutos para percorrer menos de um quilômetro nos abarrotados arredores da Mourato Coelho e Fradique Coutinho.
Primeiro momento de arrependimento – como se eu não soubesse o que iria encontrar. Muita gente a pé, muitos caros, ônibus (sim, ainda tem ônibus nessa zona toda), estacionamentos a dez reais… Durante o anda-e-pára, as cenas de sempre – carros do ano com a molecada saindo pelo ladrão – e outras curiosas, como o sujeito da Cherokee, que lia a Veja da semana enquanto dirigia. Mas nem se eu estivesse em casa!
Parei o carro bem longe da máfia de colete laranja, a pelo menos 500m do local da festa. A casa, um galpão dançante comandado por alguns DJ’s em início de carreira, foi fechada para os aniversariantes da noite. Durante boa parte da noite, tive a sensação de estar numa Festa Anos 80 Trash, só com músicas que você já ouviu um dia, há muito tempo, mas sequer lembrava que existiam. Outro detalhe curioso, que fez toda a diferença: todos os convidados eram jornalistas.
Acabava ali a graça de flertar aquela desconhecida: o negócio era tentar lembrar onde você já viu aquela pessoa antes. “Todo mundo ali fez Cásper também”. “Não acredito que você estudou na mesma turma do Fulano”. “Acho que aquele gordinho é irmão do Beltrano”. “Aquela menina não namorava outro cara na faculdade?”. Entre os comentários, não tem como deixar passar o mais maldoso deles, solto no ar entre os conhecidos.
– Não é por nada não, mas a maioria dessas aí jogam no mesmo time – disse, enquanto esfregava as mãos. Essa não…
Mas nem tudo estava perdido. Afinal, lá estava ela. Amiga da aniversariante, até então uma desconhecida para mim. Uma pena, como pude perder tanto tempo… Informações preliminares: ela é de Câncer! Hmmm, são um pouco rancorosos, não aceitam mancadas. Mas normalmente são pessoas românticas. E que par de olhos! E aquele sorriso!
Pena que estávamos em uma balada essencialmente dançante. O volume alto prejudicou qualquer tentativa de abordagem – aliás, a minha natural falta de habilidade também não ajuda muito. Enfim, passei alguns minutos avaliando a situação, em busca do momento certo para tentar, quem sabe, a filosofia Inagaki alguma cantada infame: frases de efeito como “pode ser que você não acredite, mas desde que te vi, já imaginei como seria nós dois, juntos”.
Adivinhem? Claro, pensei demais. Como sempre
– Gente, preciso ir embora. Foi um prazer conhecer todos vocês!
Como assim “já vai”? Eu acabei de chegar! Mas será o Benedito!
– Ah, não fica assim… Tem ela ali, ó.
A expressão “ela ali ó” substitui uma piada interna, usada para descrever a minha decepção ao deparar com os convidados da festa do ano passado. Nem preciso dizer que, no instante que ela foi embora, meu nível de frustração atingiu o ápice.
Mas tudo bem, ainda restava a pista de dança e a consumação mínima. Somando tudo, o R/D da festa (relação entre renda e despesa) foi positivo, consegui me divertir um bocado ao lado dos amigos. Mas não pude deixar de cantar, ao lado de Pica Pau e Zeca Urubu, enquanto caminhava em direção ao carro, pouco antes das quatro horas:
“Quando você vai embora eu fico, e chóóro… E chóóóro… Chóóóóóóro…”
Obs.: Falando em Pica Pau, quantos paus pica um pica pau se um pica pau pica pau!
Marmota,eu já tinha comentado antes e tinha sumido o e-mail, sei lá por que (quanto ao “sim” em guardar dados… eu já havia colocado!) Mas eu sei que são coisas de internet… Agora está já aparecendo. Antes aparecia o nick e a url apenas e o e-mail sumia.Quanto ao meu icq, sim, ele funciona ainda. O problema é que eu não tenho tempo para ele. Na verdade, não tenho tempo para nada. Eu fiz mais de uma reclamação? Não me lembro! Mas fique tranquilo, sem problemas de minha parte, ok?qualquer dia, quando eu tiver um tempinho, quem sabe a gente se encontra no icq e eu faço mais uma daquelas consultas sobre influências astrológicas no comportamento masculino! ;)beijinhos(ah, e eu quero tanto publicar meu post aqui, ainda mais agora com endereço novo… vou ter que arranjar um tempinho!)
Como diria o profeta: “Eu já sabia”.PS: Quer dizer que cancerianos são rancorosos? Hunf! Você vai ver só!
Tsc, tsc… Um dia você vai perceber que momentos são únicos, e não deixará passar oportunidades únicas. Acho que ela valia, pelo menos, uma tentativa…
Bwa-ha-ha-ha-ha!Fazer o que né…Nobre roedor dos charcos europeus…
Pô cumpadi, assim você carboniza minha película alcunhando essas cantadas infames de “filosofia Inagaki”… O que é que eu vou dizer lá em casa?!
Cumpadi, mil perdões. Já corrigi o texto, quer dizer, apagando a labareda sobre a película usando extintor de água. Não adianta muito, mas enfim.A propósito, a menção foi feita baseada em fatos reais:http://www.marmota.org/blog/archives/000163.htm
hahahaah! uma experiência, no mínimo, inesquecível!
RÁRÁRÁRÁRÁ!!!!! Ô cumpadi, agora que você sublinhou o trecho é que ele chama mais a atenção! Deixa do jeito que estava antes, he he!
Oh, vc é pior q eu pra declarações.Não sei pq ainda peço conselhos pra vc. (rs)Vamos morrer solteiros bjos