Exausto

Ouço o despertador, mas o som não é capaz de espantar os doze elefantes que sentam em minhas costas. Olho no espelho, ergo os ombros doloridos e pergunto quanto perderia caso decidisse voltar para a cama. Lembro de todas as pendências acumuladas e decido encará-las. Não podemos se entregar, já diria o poeta. No carro, as notícias não fazem qualquer sentido: o que furacões e grampos vão me animar, afinal? Ouço o locutor anunciar que o Brasil é o campeão em otimismo. Engraçado, ninguém me perguntou nada. Ao chegar, poderia encontrar apenas os tópicos intermináveis da listinha, mas ataques impiedosos de imponderáveis marimbondos tiram meu foco e me obrigam a espantá-los. E quando extermino um, outros cinco aparecem. Mostradores no painel de controle indicam as metas desejáveis e ponteiros cambaleantes, ávidos por uma guinada que chega num sopetão que nasceu inovador, mas na prática é fruto de uma grande tacada sob pressão. E quando o dia está perto do fim, ainda preciso tentar explicar a uma turma, que me aguarda ansiosamente, qual a importância em codificar seus textos em busca de leitores se, no fim das contas, o planeta está condenado graças aos nossos atos irresponsáveis como o desrespeito ao próximo em favor da profissão ou o consumo exagerado de nossos recursos naturais. Só me resta desejar boa noite aos elefantes e convidá-los novamente para compartilhar minha cama. Enfim, ao menos existe você para me desejar boa noite e boa sorte.

***

No fim das contas, não sei qual dos dois vai sobreviver até o final do ano: eu ou o blip.fm, espécie de “cd pirata sem fim”. Assim que sobrar um tempinho, o melhor a fazer é apontar minhas parafernálias gravadoras para registrar alguns sons bacanas em meu computador. Bom, talvez depois de publicar meu resuminho olímpico, só pra constar.

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Ah, sim: apesar do estado letárgico, hoje o MMM comemora seis anos. Muito obrigado por nada. E pensar que, há um ano, o presente era beeem mais legal

André Marmota é professor universitário e ouvinte frequente da pergunta “mas e além disso, você também trabalha?”. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (8)

  1. Seis anos??? Cacete!!!

    O tempo voa, né? E pensar que sou leitor assíduo deste cantinho virtual desde 2003, há uns bons 5 anos… Enfim, parabéns, cara!

    PS: Voltei ontem daquela maluquice inesquecível chamada Pequim. Ainda tô meio “grogue” por aqui, mas já já o fuso passa, hehehe! E valeu muito a pena mesmo! 🙂

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