Na pressa em redigir qualquer coisa para garantir a rotatividade de textos deste espaço, lanço mão da mais simples e trivial das idéias: as infalíveis listas contendo cinco qualquer-coisa-que-vier-à-cabeça. Imaginei que não teria o menor trabalho de pensar ao elaborar uma relação de… Ursos.
A propósito, adoraria saber como um animal desse naipe, um dos carnívoros mais avantajados da natureza, conseguiu gerar tantos personagens que povoaram o imaginário das crianças por várias gerações. Fenômeno que deve ter começado com os três ursos e suas tigelas de mingau com temperaturas descompassadas, e que perdura ainda hoje graças a filmes como Irmão Urso, ou mesmo aos comerciais de Natal da Coca-Cola ou às revisões programadas da Fiat.
A associação desse bicho com algo bonitinho é capaz de provocar reações curiosas. Ano passado, durante a Copa do Mundo, um urso pardo se perdeu da floresta e, em busca de comida, se aproximou perigosamente de regiões habitadas, próximo à Munique. A notícia causou impacto na Alemanha: enquanto autoridades tentavam matá-lo, cidadãos batizaram-no de Bruno e faziam campanha para salvá-lo. O desfecho não foi dos mais felizes, e o urso Bruno tornou-se um dos personagens mais célebres de 2006.
Outros ursos, digamos, mais animados e inofensivos, são imortais. Nesse quesito, Zé Colméia e Catatau são imbatíveis. Hanna Barbera dá de dez na Disney, que na tentativa de popularizar um (conseguiu, diga-se), inventou o gordo boboca do Puff e seu grande pote de mel – aliás, todos os personagens ao redor dele são infinitamente melhores. Quem rivaliza com eles é, sem dúvida alguma, a família do Ursulão, da Turma do Pica Pau: sua esposa Úrsula e seus filhos Ursulino (o Júnior) e a ursinha (devia ser Ursulina). Não tem como esquecer os episódios baseados na máxima “o barato sai caro, urso idiota”.
Fora dos grandes estúdios, o urso Misha (conhecido em alguns recantos mal-intencionados como urso Bisha) fez o mundo chorar no encerramento dos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980. Outras figuras célebres sequer precisaram de uma imagem para ficarem eternamente em nossa memória: o ursinho Pimpão, do Balão Mágico, ou o ursinho Blau Blau, de Silvinho e sua banda Absyntho.
É tanto urso que não tem como fazer um Top 5 dos mais populares. Assim, vamos ao caminho inverso. Apresento os cinco ursos que certamente só eu, talvez você e mais ninguém vá se lembrar.
#5 Fofo – Em algum momento dos anos 80, a Gessy Lever, que já detinha a consagrada marca de amaciante Comfort, decidiu lançar um novo produto no mercado – de repente, foi para reduzir o impacto do Mon Bijou, da Bombril. Não importa. Tenho a absoluta convicção de que o lançamento do amaciante Fofo não repercutiu tanto nas donas de casa quanto mexeu com as crianças da época. Era um ursinho com pinta de hermafrodita, mas viadagem à parte, era bonitinho e cativante. Aquilo deve ter vendido toneladas de amaciante, enquanto as crianças não estavam nem aí com a maciez das roupas: estabeleciam logo de cara uma relação de amor (ou ódio) com o fofinho.
De alguma forma, o personagem poderia ter virado um brinquedo de sucesso. Mas por estar associado a um reles produto de limpeza, o máximo que fizeram foi uma embalagem em forma de urso, ou uma promoção cujo prêmio era uma mochila vagabunda. Esse é o grande mistério envolto nesses mascotes publicitários – assunto que merece outro Top 5, com a Menina Claybon e o Detetive Bardahl garantidaços. Pergunte a uma criança se ela já ouviu falar no ursinho Fofo. A figurinha ainda existe no amaciante, mas está perdida num canto da prateleira do supermercado.
#4 Peposo – Você já ganhou um urso de pelúcia? Se a resposta for sim, e se você tiver bem perto dos 30 anos, é bem capaz do seu brinquedinho de infância atender pelo nome de Petuti. Era um ursinho bacaninha e sorridente, com uma fita amarrada no pescoço. O Petuti também anda praticamente esquecido, mas há uma turma bem mais feia na rua da amargura: a familia Peposo.
Peposo devia ser vizinho imaginário do Petuti. E era feio. Muito feio. Tinha um macacão estúpido, além de mãos e focinho de borracha – a Mãe Natureza dos Ursos dos Anos 80 achava que assim ficava fácil para ele botar o dedo na boca. Para piorar, ele não estava só. Havia ainda a Peposa, o Peposinho e a Peposinha. Todos com a mesma característica mequetrefe: o tal dedo na boca. Esses já foram tarde.
#3 Teddy Ruxpin – Mas não sejamos tão injustos com a família do Peposo. Havia outro urso mais horrendo e infinitamente mais caro disponível no mercado. E pior: ele ainda existe. É o Teddy Ruxpin, uma criatura quadrada que vinha com uma fita cassete na barriga, pretexto para esta coisa sinistra cantar e narrar suas histórias abrindo a boca de maneira diabólica, sem deixar de piscar seus olhos esbugalhados.
Essa aberração foi trazida para o Brasil pela Tec Toy, época em que brinquedos inteligentes como a pistola Zillion e o micrinho Pense Bem faziam mais sucesso que seu futuro brinquedo mais popular, um tal Master System. Mas nem o respaldo da marca (muito menos o desenho animado nas manhãs da Globo) fizeram com que Teddy Ruxpin ficasse bem na foto. Felizmente esse brinquedo assustador, que (reitero) custava uma fortuna, escafedeu-se de nosso país.
#2 Ursinhos Gummy – A prova de que nem tudo que vive no mundo de Walt Disney é para sempre. Bronquinha, Vozinha, Pancinha, Maguinho, Soninha e Tiquinho eram ursos muito inteligentes, que viviam enclausurados em túneis e árvores ocultas em seu reino medieval encantado. Com a ajuda de Carla e Crispim, as simpáticas criaturas silvestres sofriam as agruras do Duque Duro, seu assistente feioso Sapulha e os ogros da floresta. Para salvar o mundo, os ursinhos contavam com um poderoso suco de amoras Gummy, que lhes dava uma impressionante e misteriosa força temporária. E todos viviam felizes para sempre.
Na prática, eles rivalizavam mesmo era com os Ursinhos Carinhosos, que apesar de mais coloridos, podiam estar nessa lista também, já que os valores que carregavam na barriga são cada vez mais ignorados.
Os ursinhos Gummy chegaram na mesma época em que os estúdios Disney reinventaram seus desenhos, com Tio Patinhas em Duck Tales e Tico e Teco em Rescue Rangers, além de uma geração de bichos trangênicos misturados, os Wuzzlies (estes nem duraram muito, tadinhos). Os Gummies viraram desenho animado nas manhãs da Globo e gibi da Editora Abril, permanecendo em evidência praticamente na metade final dos 80 e início dos 90. Do mesmo jeito que saíram das profundezas de seu mundo mágico, os ursos voltaram para lá e não apareceram mais.
#1 Smokey – Em 1944, os Estados Unidos lançaram uma campanha de prevenção de incêndio nas florestas. Nascia a figura do Urso Smokey, o meu urso desaparecido favorito, e certamente uma das mais longas campanhas do mundo, já que o negócio existe até hoje.
A figura de chapéu, macacão e pá anti-fogo saiu dos pôsteres e ganhou um desenho animado só dele. A figura pública também aparecia repentinamente em outras bandas, como no clássico episódio em que Toquinho e Lasquita se perdem na vila dos contos de fada. Além de registrar seu peculiar discurso (“só você pode prevenir incêndios na floresta”), Smokey tem participação decisiva ao apontar para os dois pentelhos: “a próxima é a casa da vovó”.
Apesar da longevidade, Smokey sumiu daqui. Não fosse estas parcas linhas, muitos simplesmente teriam ignorado sua imagem. Curiosamente, a toda hora surgem notícias de incêndios nas florestas norte-americanas, indicação de que não foi só na mídia que Smokey deixou de trabalhar.
Quando comecei a ler o texto, já me veio à cabeça aquele chato do Smokey, mas pensei: o Marmota não vai lembrar disso, é muito trash para ficar na cebça. Pois lembrou. E lembrou do Ursinho Blau Blau (“blau blau ela não me quer”), Teddy Ruxpin! Virgi.
Puxa, eu acho que os Ursinhos Carinhosos merecem um post só pra eles! 🙂 São lindos, principalmente os bebês – Sonho e Coração.
Que post “bunitinho”, bonitinho! 😛
esse smokey bear sem camisa parece que saiu de uma novela do carlos lombardi.
Eu gostava do ursinho do talco Pom Pom. Lembro do jingle “Pom Pom com Protex, protege o neném…”
Os Gummies lembram muito a história do Asterix. Um baixinho esperto (Tiquinho, no caso dividindo o papel com a Soninha), e gordinho (pancinha), o mago (maguinho), e o chato (bronquinha). Tomavam a tal poção Mágica para resistirem contra a força Superior (Duque Duro não era uma espécie de César?).
Mas dos Gummies, o que eu mais queria era passear naqueles túneis…
Pena que faltaram as ilustrações.
André, este texto está um primor! E você ainda tira onda dizendo que foi feito às pressas, por falta de tempo ou assunto?!
Em tempo, aguardo um sobre a Menina-devoradora Claybon 😉
Eu tive uma Peposa, um angeloso (que era um urso-anjo de pelúcia)e sempre adorei os ursos dos desenhos animados. Eu gostava de assistir ao Urso do Cabelo Duro. Mas o urso de que mais gostava era o Balu, do Mogli, que tinha um bom humor inigualável e um olhar terno. É, os ursos povoam mesmo a nossa vida. Qualquer dia eu faço um panda de origami para você, combinado?
Fala estúpido! Você esqueceu do Murphy! Abs
Muito bom… Em que outro lugar nessa internet de meu Deus eu iria achar alguém fazendo um Top 5 de ursos semi-desconhecidos e meio-esquecidos… O problema é que eu ainda lembro de alguns deles…
Daddy trouxe um Smokey de pelúcia pra gente uma vez. Sumiu. O papo do urso Bruno é papo sério. Aqui na California volta e meia tem uma tragédia envolvendo ursos que se acercam de casas. Uma bocanhada de urso e bye-bye.
A região da Bavária tem fama de ter gente bronca; tudo pode acontecer, até velório de urso.
Geeeente, você lembrou do Peposo!! Eu sempre tive um certo medo dele, mas eu queria ter um, é claro. Nunca tive. Acho que foi melhor 🙂 beijosss!
Você falou que o Fofo pisava na chapinha. É claro que todo ursinho tem lá uma pinta de viado, mas de todos os mencionados, o Blau Blau certamente é o urso mais gay. (ou seria o Silvinho?)
Esse post merecia ser o top 5 de ursos-viados.
oi, só gostaria de acrescentar que o ursinho FOFO teve sim uma versão BRINQUEDO DE PELÚCIA e que fez muito sucesso na época. Inclusive tenho um até hoje (tem mais de 15 anos).
um abraço
nossa, que merda ;~~
“aberração”?
teddy rupxin é lindo demaais, tenho até hoje.
unica coisa verdadeira que tu flou ai é que ele custava uma fortuna, mas de olhos e formas diabolicas, tu viajou demaaais!
Não gostei da maneira como se referiu aos Peposos. Eu tinha um Peposo e minha prima uma Peposa. E adorávamos nossos ursinhos. A próxima vez que for se referir assim a um brinquedo, pense q pode estar ferindo a memória da infância de alguma criança.
Meus primos também tinham. E eram feios, sim. Nem todo feio é odiado. E não leve as coisas tão a sério – já bastam as feridas que qualquer ex-criança atravessa na vida.
Bela resposta,fiquei até doente querendo esse ursinho,minha mãe com muito sacrifício comprou,tenho até hoje,e fico feliz em recordar minha infância
esse jogo e muito interesanter para as criançaa
Ahhh o teddy não é demoníaco não mano! As bonecas cabeçudas e zoiúdas daquelas Bratz é que parecem o capeta com cílios!
O meu sr. rupxin até hoje está muito bem de saúde, as vezes engasga na hora de contar uma história só..
Putz… Quando você começou a falar do sinistro do ursinho Ted, pensei que iria citar a sua última aparição pós-moderna. Não sabe do que eu tô falando? A. I. – Inteligência Artificial, meu amigo, onde aparece uma versão do ursinho Ted com inteligência artificial interagindo com o protagonista. Genial sacada de Spielberg e muito sinistro!!!
Todos esses ursinhos marcaram uma geração de crianças que em vez de fikarem na rua roubando , matando, usando drogas , pelomenos tinha algo d eutil a fazer , pois se as crianças de hj soubessem como era divertido aquela epoca deixariam de fikar so no orkut , MSN, eu tenhu a familia inteira do peposo , e tenhu 5 ursinhos petuti ,pis eu coleciono e os peposos naum temnda de horendo como vc mencionou pelo contrario saop maravilhosos , se voce escreveu esse artigo provalvemente nao teve infancia , ou quem sabe gostaria de ter tido e nunca teve.
Que ninguém aqui ouse falar mal do Smokey!