No começo deste século, um entusiasmado VJ norte-americano teve uma visão: por que não aproveitar o potencial da Internet para distribuir algum conteúdo em áudio? Com essa perguntinha na cabeça, Adam Curry foi se encontrar com o programador Dave Winer, criador do RSS. Chegaram a uma conclusão interessante: se existisse uma tag <enclosure> num arquivo XML, apontando para um arquivo de áudio, as pessoas acostumadas a assinar conteúdo online poderiam fazer o mesmo a partir de algum software como o iTunes, praticamente armando sua própria programação de rádio em seu computador ou dispositivo tocador de MP3.
Resumidamente, foi assim que nasceu o tal “podcast”, um nome que para desespero da Creative ou da Microsoft, popularizou-se graças ao iPod, da Apple. A distribuição é apenas um dos lados fascinantes desse negócio: imagine alguém baixando automaticamente uma porção de áudios, tendo o total controle do que deseja ouvir, na hora que bem entender. O outro lado fascinante: o Ministério das Telecomunicações não precisa conceder licença para quem quiser produzir o seu próprio show.
Pessoalmente, tenho absoluta certeza de que, assim como o “boom” dos blogs, vai chegar o dia do podcast. Inegavelmente, dá mais trabalho: enquanto a linha de produção do primeiro é idéia – escrever – publicar, a do segundo é idéia – preparar – gravar – editar – empacotar – publicar. Há quem encare todas as etapas com naturalidade, mas independente da dedicação, é preciso algum tempo.
Eu diria que, na maioria dos casos, a parte do “editar – empacotar” é o maior bicho de sete cabeças para quem se atreve a criar um podcast. O meu caso sempre foi muito pior: quando tive a primeira idéia, travei logo no início, na parte do “preparar”. E como sempre arrumava outras coisas para fazer, é vergonhoso dizer que isso foi há três anos…
A idéia não tinha nada de extraordinária, pelo contrário. A inspiração é em Vicente Leporace, que empunhava o seu trabuco e comentava as notícias mais relevantes nas manhãs da Rádio Bandeirantes, a partir de 1951 (durou trinta anos, até virar Jornal Gente). No Rio Grande do Sul, Candido Norberto amplificou a discussão: pegou o microfone da Rádio Gaúcha e passou a fazer o mesmo a partir da redação do Zero Hora, sempre com a opinião dos colunistas do jornal. Até hoje, o “Sala de Redação” vai ao ar na hora do almoço.
A longevidade desse tipo de programa não está no horário, muito menos no batido formato “mesa redonda”. Mas sim nas pessoas que estão por trás. Esta sempre foi a pedra no sapado do “whatever connection”, nominho chupado da versão Manhattan do canal GNT. Já passou por três reformulações, sempre no campo metafísico: o “estúpidos connection” reuniria meus amigos de redação; o “boteco connection” iria além, alternando convidados oriundos da esfera blogal; agora, desenrola-se o estágio “cangaíba connection”, projeto que reúne um idealizador entusiasmado e dois exímios procrastinadores…
Eu devo ter algumas horas de conversas registradas em mesas de bar, verdadeiras pedras brutas que estão longe de virar um “whatever connection” – principalmente pelo simples fato de não conseguir parar e pensar no formato que eu considero minimamente bom para fazer upload. Em qualquer ambiente profissional, essa postura é fatal: normalmente, a única lei é a do “não perca tempo planejando, apenas faça”.
Finalmente encontrei alguém que poderá gritar na minha orelha a frase acima toda semana e aplacar minha frustração de jamais conseguir viabilizar um podcast, após topar investir algumas horas na gravação. No caso da Luciana é ainda mais fácil: descontando as esferas “casa” e “trabalho”, certamente é a pessoa com a qual passo mais tempo conversando (e discutindo). Foi com essa parceria meio óbvia em mente que concluí: vamos botar o bloco na rua.
Assim nasceu o LoveLive, minha primeira tentativa (de verdade) em viabilizar o que considero como boas práticas para um podcast bacana. Longe de ser a verdade absoluta sobre um tema que só conheço na teoria (e por isso merece correções e acertos com o tempo), os tais “mandamentos” também servirão para que os mais chegados possam cobrar no futuro: “ei, por que o episódio dessa semana ficou tão horrível?”.
#5 Ter boa qualidade de som – Dias atrás, ao comentar as razões pelas quais ainda não havia gravado nada, recebi um e-mail mais ou menos assim. “As pessoas querem ouvir vozes, e só. O resto apenas agrega ao conteúdo”. Mentira descarada. As pessoas que desejam ouvir suas vozes são os seus amigos e conhecidos. Os demais vão desistir de ouvir nos primeiros segundos após constatarem qualidade pior que conversa telefônica em rádio AM – a não ser que você seja a Bia Kunze querendo demonstrar o potencial de algum gadget.
Não é preciso ir até a Santa Ifigênia e entrar numa daquelas lojas repletas de canhões de luz e caixas acústicas, perguntando pelo melhor microfone do planeta e, após encontrá-lo, gastar uma fortuna. Mesmo aquelas coisinhas de plástico com plugue cor-de-rosa são capazes de excelentes resultados. Tenha em mente que qualquer ruído pode dispersar o ouvinte ou, na pior das hipóteses, agredir ouvidos alheios.
Como vai ser no LoveLive: No primeiro teste, caí na besteira de usar as mesmas técnicas de sempre (manter distância segura e não falar diretamente) diante do microfone embutido do laptop. Ficou ruim: as pipocadas comuns nas palavras com P ficaram muito evidentes. Dá pra removê-las usando o Audacity, mas estava sem paciência para isso dessa vez. Para os próximos, além de um tratamento decente (corrigindo amplitude, removendo silêncios, sílabas desnecessárias), vou seguir o conselho do Trotta e falar “de ladinho”. Já o microfone da Luciana parece estar instalado ao lado de uma “serraria” – mas isso também é fácil corrigir.
Sem falar que, quando pudermos compartilhar o mesmo espaço físico, poderei usar o meu Edirol R-09, o mesmo usado pelo Alexandre Sena em suas entrevistas. Aí vai ficar bem bom.
Ah, não vou entrar nos detalhes das canções “podsafe”, nem no mito do “fair use”. Fica para uma próxima vez.
#4 Garantir periodicidade muito bem definida – Achou trabalhoso só em imaginar uma noite em claro editando um arquivo em áudio? Pois tenha em mente que, mesmo com a prática, a redução no tempo dedicado ao podcast vai chegar a um limite máximo possível. E será assim até o dia que você seguir o caminho do Fred Leal, criador do saudoso “É Batata”, um dos melhores podcasts que já ouvi. Provavelmente desistiu por falta de tempo, mesma razão pela qual outros chegam ao quinto, sexto, décimo… E param.
Enfim, se a qualidade do áudio pode afastar um ouvinte em potencial, a total ausência do mesmo diante da expectativa criada é fatal. Ou seja: enquanto você planeja o que irá falar e como gravar, não esqueça de se programar: depois de colocar o primeiro, quando será capaz de publicar o próximo?
Como vai ser no LoveLive: O temor de não garantir a tal periodicidade (além de outras desculpas) contribuiu para o engavetamento do “connection”. Desta vez, se tudo correr bem, toda quarta-feira. E depois que se promete, é preciso cumprir. O esquema é óbvio: quando sobrar tempo pra gravar, prepare o próximo e mais alguns áudios “frios”, que podem ser disponibilizados a qualquer momento. Além disso, a Luciana é insistente: não vai adiantar nada dizer que “estou sem pique pra gravar agora”. Definitivamente, não poderia ter escolhido melhor a parceria para este projeto.
#3 Usar só o tempo que ele merece – Posso ser exceção, mas mesmo alguns dos melhores e mais bem editados podcasts que já ouvi pecam por excesso de tempo. A média nacional, segundo meus próprios critérios, é de uma hora por programa. O problema nem está na quantidade de tempo, mas sim na organização das idéias. Se você tem assunto para uma hora e conseguir manter o ritmo, perfeito.
Aqui, o caso mais grave é o “papo de boteco” sem edição alguma: uma hora com todas as derivações na conversa, as idas e voltas no mesmo tema… Há quem não goste ainda dos podcasts estruturados como um programa de rádio comum: abertura, divisão em blocos, seções, leitura de e-mails, despedidas… Claro que isso provoca impacto no tempo, mas dá para “enxugar” tudo que parece dispensável.
Como vai ser no LoveLive: Eu confio na inteligência da Luciana, o que garante boas conversas na maioria das vezes. Além disso, para minimizar as palavras supérfluas, fixamos um limite de tempo: 20 minutos. “Ah, mas dependendo do papo, a conversa vai longe…”. Claro que passa. Mas no LoveLive, a gestão do tempo será talebã: passou de 20 minutos, cortamos papo ou gravamos novamente. “Mas vocês começaram um assunto e não concluíram!”. Melhor assim: isso garante o programa da semana seguinte!
#2 Focar, focar, focar e focar – Esqueçam os textos desse blog como parâmetro e pense: ao bolar um podcast, o que você tem a dizer, e por que é tão importante baixar um arquivo de alguns MB para conferir? Sabendo disso, será possível responder outra pergunta, um pouco mais difícil: qual o perfil de quem vai ouvi-lo, quem você quer atingir?
Independente da resposta, só existe uma saída: seja objetivo. Aliás, a promessa dos podcasts é semelhante a dos bons projetos de conteúdo online: satisfação de comunidades e nichos específicos. Enfim, ainda que você tenha delimitado seu leque de assuntos, cuidado ao conduzir o tema em suas gravações: é muito fácil ignorar o foco.
Como vai ser no LoveLive: O tema é praticamente o mesmo: relacionamentos. Talvez eu queira meter o bedelho em futebol e jornalismo, assim como a Luciana vai querer falar em filmes antigos e literatura. Mas deve haver alguma conexão com a boa e velha “discussão da relação”, especialmente a dos outros. Para contribuir com o foco, lembro da gestão de tempo talebã: em 20 minutos, tudo tem que acabar.
Aliás, as palavras da Luciana definem bem o teor do LoveLive: “não pretendemos ser gurus de relacionamento, nada disso. Somos apenas duas pessoas que preferem o caminho da conversa ao silêncio. E sim, eu sei que o silêncio é de ouro, mas às vezes ele pode ser de vidro também, e cortar – ferir, magoar, nublar, fazer chorar…”. Perfeito.
#1 Despertar vontade de ouvir o próximo – Então você teve uma idéia genial, convidou as pessoas certas, executou, plastificou, distribuiu e garantiu continuidade. Parabéns! Agora só resta saber se tanto trabalho vai agradar. E este é o mais difícil (e incontrolável) dos desafios. Até porque, quando um sujeito baixa o MP3 e ouve no carro, no metrô ou longe de uma conexão à web, praticamente não há feedback.
Esse é elemento que diferencia a multidão dos melhores. O topo do ranking. A nata. A cobertura do bolo. O tempero que faz a comida de casa ficar melhor que a do restaurante. Porque sua mãe sabe como preparar a sua comida, mas ao mesmo tempo consegue surpreender com alguma coisa diferente na mesa. E não é fácil conseguir uma coisa dessas.
Como vai ser no LoveLive: Ah, não me pergunte. Mesmo se eu absorvesse algum conhecimento em áreas ligadas ao desenvolvimento da criatividade ou mesmo estudos pontuais de comportamentos de mercado, elementos que qualquer profissional de marketing utiliza para direcionar qualquer produto ao seu potencial consumidor… Ainda assim, corro o risco de errar.
Mas enfim, se eu errar com o LoveLive, ao menos terá sido bem divertido.
Gosto muito de Podcasts, mas não ouço muitos, apenas 4 regularmente: Pod sem fio, Rapaduracast, Poploaded e o Grande Abobora. Além desses o Nerdcast eo Hedonismos passeiam pelo meu mp3 player.
Há um coisa que acho chata, mas muita gente gosta, que é ter música de fundo enquanto falam. Me desconcentra as vezes. Acho que a música acrescenta, no início, meio e final. No Pod sem Fio as músicas sempre vem como aperitivo, não como prato principal. O Poploaded do Massari e do Lucio Ribeiro, que é um dos meus preferidaços, tem música de fundo, mas é preciso que fique bem baixinho.
A questão da periodicidade é relativa, ouço o do Grande Abobora e não estou tão interessada na peridiocidade, mas sim no conteúdo. A questão do tempo mesma coisa. O RapaduraCast, que eu adoro, tem geralmente uns 40, 60 minutos de duração, perfeito para a esteira na academia. Fora que esse formato conversa de bar pode ser engradíssimo e não ser cansativo.
Quanto a focar você está absolutamente certo. Ter pauta, essas coisas é fundamental para o assunto fluir bem.
Considero os podcasts uma ótima opção para as pessoas criarem cada vez mais. E longa vida ao LoveLive.
E vou perguntar aqui também, mais alguém vê uma carinha ao invés do coração no logo do LoveLive?…rs.
Ah, e outra coisa que não falei, a questão do formato também é importante. O que é melhor baixar o pod ou tê-lo disponível na página? Confesso que as ter as duas opções é o melhor, mas quando não dá, prefiro mesmo baixar.
Opa, aqui quem escreve é o chato que mandou o e-mail dizendo que o que importa é a conversa, a produção é irrelevante 😀 .
<jaba>A propósito, agora no Wincast tem mais gente participando, e aprendi a colocar musiquinha de fundo, haha!</jaba>
Bom, analisando tecnicamente seu podcast, só pecou na qualidade do áudio (ponto 5). O “puf” do microfone do Marmota, e a serra de back vocal na Luciana. Outro detalhe é que o volume dos microfones estão desnivelados (o da Luciana mais alto). A Luciana pareceu meio perdida às vezes, mas acho que foi timidez de principante – no terceiro podcast, já me sinto bem mais à vontade do que no primeiro.
Parabéns pela nova empreitada, achei muito legal o “- manda um beijo pra mim?; – acabou o tempo, no programa que vem”, haha! Marmota cruel 😀 .
[]’s!
Ps: cadê o botãozinho “Prever”?
Meu comentário do LoveLine está já lá…
A coisa agora é esses 5 mandamentos.
Fiquei fazendo a comparação com o MotoCast E vi que estou fud***!
5->Qualidade de som é quase impossível visto a filosofia do programa que é gravar pilotando a moto.
4->A periodicidade é uma coisa que quero ainda estabelecer… Está caminhando tb para ser semanal.
3->Tempo merecido tenho melhorado tb com as edições! Ainda não sei usar tão bem os programas de edição, mas pelo menos cortar é fácil.
2->Focar já é um problema pessoal, sou muito disperso, mas tb estou tentando melhorar.
1-> Ainda não consegui acho esse tempero! Mas estou fazendo experiências e tentando!
ACEITO DICAS E SUGESTÕES!!!!! 😀
http://bodas.podomatic.com
Adorei o projeto!
Vida longa a ele!
Ser podcaster chega a ser mais prazeroso do que blogueira. Dá mais trabalho, sim, por isso, tem que gostar de verdade de fazer.
Beijocas sem fio procê.
Marmota, procure um microfone da marca Shure, compre também uma espuma para por no mic, no plugue, vc pode usar um adaptador para liga-lo no pc, nem sai tão caro
[]s
(um comentário clássico estilo Trotta)
E eu ouvi em primeira mão! RÁ! o/
Opa André (Já que sua parceira não gosta de Marmota!)
Eu acho que periodicidade não é problema (depois que inventaram o RSS) e sobretudo porque o formato do podcast, como você mesmo disse, te permite ouvir na hora que você quiser, logo pra que a paranóia analógica da periodicidade?
Agora, este tema relacionamento é muito “mulherzinha” 🙂
Vou esperar os próximos shows pra emitir uma opinão 🙂
PS: Nunca se poderá agradar a todos, mas eu detesto podcasts sem podsafe (ou mesmo sem podsifú)… Músicas são obrigatórias no formato, na minha opinião!
Se for só para ouvir o blá blá bla… eu leio os blogues 🙂
Mas veja, eu tenho gostos sempre fora da Gaussiana!
abração!
Bem-vindo ao mundo dos podcasters!