Ciência revela: Papai Noel não existe

Sem ter muito o que fazer durante o plantão natalino da redação, parei para refletir num comentário do Ricardo, baseado neste pequeno artigo do New York Times: pesquisa revela que a maioria dos norte-americanos despreza a ciência, confiando muito mais em crenças, milagres, fantasmas e afins.

Com a palavra, o próprio Ricardo: “É impressionante como as pessoas têm resistência à racionalidade ou à ciência. Preferem se encantar com mundos que não existem ao invés de admirar o que é real, preferem confiar em relações simplistas para não ter que compreender as verdadeiras. Um misto de preguiça e medo parece nortear essas pessoas. Preguiça de ter que raciocionar, medo da vida ser apenas isso que elas têm”.

Tenho certeza de que os mais esclarecidos agradecem a ciência por tudo que o homem é capaz de fazer hoje – apesar de alguns amaldiçoarem-na pelo mesmo motivo. Ao mesmo tempo, admito que, vez ou outra, prefiro me sustentar em mundos concebidos pela nossa imaginação, ou mesmo em teorias cientificamente discutíveis, como religião e astrologia.

Isso posto, hora de confrontar os dois lados, com um tempero mágico proporcionado por essa época do ano. A discussão fez com que eu lembrasse de um antigo texto anônimo, reescrito abaixo, lido há uns cinco anos em uma edição do informativo “Isolante”, publicado pelo Grêmio Politécnico da USP. Através da ciência, uma constatação cruel a uma dúvida que nos acompanha durante anos: Papai Noel existe?

Existem no mundo cerca de 2 bilhões de crianças (pessoas com idade entre 0 e 18 anos) no mundo. Porém, dado que Papai Noel não tem sua crença entre as crianças muçulmanas, hindus, judias e budistas (para não falar de um sem-número de outras religiões não cristas), temos nosso universo reduzido para 15% deste total, isto é, 378 milhões de pessoas, segundo o US Population Reference Bureau. Supondo que há uma media de 3,5 crianças por lar (segundo o último censo), nós temos 91,8 milhões de lares.

Podemos supor, sem medo de errar, que pelo menos uma criança por lar acredita em Papai Noel. Devido aos diferentes fusos horários e à rotação da terra, Papai Noel tem 31 horas, no dia de Natal, para executar seu trabalho, supondo que ele viaja de leste para oeste (o que seria mais lógico). Isto nos dá 822,6 visitas por segundo.

Resumindo, para os que não conseguiram acompanhar o raciocínio: para cada lar cristão, com uma criança que crê em Papai Noel, ele tem aproximadamente 1/1000 segundos para: estacionar, pular a cerca ou o muro, escalar a casa, descer pela chaminé (quando for o caso), encher as meias das crianças, eventualmente comer alguma coisinha, depois subir pela chaminé (pressupondo que ele a utilizou para entrar) pegar o seu trenó e partir para a casa seguinte.

Supondo, para simplificar, que os 91,8 milhões de lares são uniformemente divididos no globo terrestre (isto não corresponde a verdade, mas o cálculo exato levaria a horas de simulação), isto nos dá 1,25 quilômetros por lar a visitar, totalizando uma viagem de 120 milhões de quilômetros.

Isto quer dizer que o trenó de Papai Noel se desloca a uma velocidade de mais de 1000 quilômetros por segundo, ou seja, 3000 vezes a velocidade do som. A titulo de comparação, o veiculo mais rápido jamais construído pelo homem, a sonda espacial Ulisses, tem uma velocidade de míseros 44 quilômetros por segundo.

Vale sempre lembrar que uma rena normal consegue alcançar apenas a velocidade de 25 quilômetros por hora!

A carga do trenó também pode fornecer pistas importantes a nossa investigação. Supondo que cada criança ganhará uma caixa media de LEGO (marca registrada), o peso útil da carga do trenó seria de 321 300 toneladas! Isto sem contar o próprio Papai Noel, invariavelmente descrito como obeso.

Nenhuma espécie conhecida de rena pode voar, mas restam ainda cerca de 300 000 espécies de organismos vivos para investigar. Apesar da maior parte desses organismos é de insetos e de germes, isso não exclui totalmente as renas voadores, que nesse caso pertenceriam a uma espécie que só o Papai Noel conhece.

Uma rena normal (que não voa) pode puxar mais ou menos 150 quilos. Mesmo supondo que uma “rena voadora” possa puxar dez vezes esta carga, Papai Noel não poderia se contentar com apenas oito ou nove renas voadoras: seriam necessárias 214 200 renas voadoras.

Com isto aumentamos a carga, sem contar o peso do treno, para 353 430 toneladas. Mais uma vez, a titulo de comparação, este numero representa quatro vezes o peso do navio Queen Elizabeth.

Ainda, 353 mil toneladas viajando a mais de 1000 quilômetros por hora implica numa enorme resistência do ar – isto queimaria as renas voadoras da mesma maneira que queima um foguete quando da reentrada na atmosfera. Deste modo, as duas renas da frente deveriam absorver uma energia de 14,3 quintilhoes de joules, por segundo, cada uma. Logo elas se evaporariam em chamas, quase que instantaneamente. As renas seguintes teriam o mesmo destino. Isto tudo provocaria um ruído supersônico ensurdecedor. O desaparecimento total de todas as renas levaria apenas 4,26 milésimos de segundo.

Durante este tempo, Papai Noel seria submetido a uma força centrífuga de 17500,06 vezes maior que a gravitacional. Um Papai Noel de 125 quilos (obeso) seria colado ao fundo de seu trenó por uma força equivalente de 2.157.507 quilos.

Conclusão científica? Papai Noel não existe, e se um dia tivesse existido, teria virado carvão. Embora ainda acredite que é bem melhor imaginar um Papai Noel usando mágica e duendes para driblar a física.

(Postado em 21/12/2003)

Comentários em blogs: ainda existem? (2)

  1. Eu posso provar que Papai Noel existe!
    É claro que o bom velhinho segue a tendência da economia mundial e tem sua linha de produção e distribuição descentralizada. Desde as suas fábricas em Taiwan, China, Vietnan (e outros países onde a mão-de-obra ganha menos que os anões que antigamente trabalhavam pra ele), vários velhinhos altamente capacitados em boas faculdades de Papai Noel ficam com a tarefa de administrar as filiais e despachar tudo pela DHL na noite de Natal.

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