A história de Elesbão e Catarina

É com imenso prazer que lhes apresento Elesbão e Catarina, criaturas extremamente diferentes. Elesbão é internauta voraz, verdadeiro rato de computador. Catarina tem horror a tecnologia, nem celular tem. Elesbão tem uma vida regrada: trabalho, casa, computador e discreta vida social. Catarina faz bicos de dia e vai pra balada à noite. Mora com os pais, mas não vê a hora de decretar sua independência. O teimoso e acomodado Elesbão não. Tinha que ser taurino. E se prende ainda mais na terra com seu ascendente em Virgem. Catarina? Escorpião. Com lua em Escorpião. Mmmhhh…

Jamais tinham ouvido falar um do outro, até a festa de aniversário da Rô. Elesbão trabalhava com o irmão da Rô. Catarina era amiga de uma amiga dela, que levou outras amigas para comemorar também. Ela estava maravilhosamente produzida. Ele usava jeans e uma camisa larga, para não evidenciar a barriga. Elesbão quis saber do irmão da Rô a quem pertenciam as curvas daquele brotinho com vestidinho preto. Catarina comentou com a aniversariante que o tal gordinho de óculos e cabelo lambido parecia engraçado.

E foi Catarina que tomou a iniciativa e se aproximou de Elesbão. Ela o puxou para dançar. Ele aceitou o convite, meio desajeitado. Catarina perguntou se ele curtia bandas nacionais. Elesbão fez um gesto positivo, mas não escondeu sua preferência por música eletrônica. Ela puxou um Marlboro da bolsa. Procurou pelo isqueiro prateado, sem sucesso. Pediu fogo para Elesbão. Gentilmente, ele disse que não fumava. Decidiram sentar para conversar. Catarina pediu rum com gelo e limão. Elesbão pediu uma Coca. Com gelo e limão. Já temos algo em comum, brincou. Ela riu, antes de trocarem outras amenidades.

Eram três da manhã, a festa estava no fim. Mas o encanto de Catarina pela firmeza de Elesbão estava recém desperto. Despretencioso, ele ofereceu carona. Ela aceitou prontamente. No carro, Catarina se queixou: não queria ir para casa. Elesbão sugeriu um bar. Catarina preferia um motel. Elesbão arregalou os olhos e respirou fundo. Catarina virou-se de sopetão e o agarrou. Elesbão continuava pasmo, mas aos poucos sincronizou seus lábios com os dela. Elesbão tremia, enquanto Catarina já concentrava um tesão incontrolável.

Elesbão tentava desembaçar o para-brisa inutilmente. Catarina continuava agarrada a ele. Elesbão balbuciou abobadamente o pedido de uma suíte qualquer na entrada do motel. Catarina riu, sem parar de acariciar Elesbão. Mal abriu a porta do recinto e Elesbão já se via praticamente nu. Catarina indagou-o – não vais fazer nada? Ainda com mãos e lábios trêmulos, Elesbão abriu-lhe o zíper do vestido enquanto sentia a textura de sua pele. Catarina tratou de acalmá-lo com vigorosas carícias nas costas e beijos intermináveis. Elesbão continuava tenso e quase sem fôlego. Catarina deitou-o na cama e sacou a embalagem de preservativos da bolsa. Elesbão atrapalhou-se todo e inutilizou o primeiro. Depois foi a vez de Catarina se irritar por não conseguir abrir o segundo. Nisso o pobre Elesbão murchou. Finalmente, após milagroso e momentâneo instante de sensatez, Elesbão e Catarina se tornaram apenas um.

A luz do sol acordou um sorridente Elesbão, que tratou de encher sua Catarina com milhões de beijos por todo o corpo. Não menos sorridente, Catarina retribuiu o “bom dia” a altura. Ainda estavam inebriados quando Elesbão se deu conta: precisava ir embora. Ainda distante dali, Catarina devolveu um sussurrante “tudo bem”. Horas depois, Elesbão a deixou em casa. Num papel, anotou seu e-mail. Catarina disse que aquilo não lhe adiantava… Passou-lhe o telefone, único meio que dispunha para contatá-lo. Trocaram telefonemas no mesmo dia. E nos dias que se seguiam.

Elesbão e Catarina vinham de relacionamentos fracassados. Só que Catarina quer apenas se divertir. Já Elesbão procura por sua eterna princesa. E que não era como Catarina. Não até aquela noite. Ou continuava não sendo? Catarina ligou. Elesbão a chamou de lindinha, mas ela respondeu por minha paixão. Abriu seu coração, disse que não parava de pensar nele. Elesbão sorriu incrédulo. Ficou em silêncio, abalado com a força das palavras de Catarina. Então estamos… Namorando, questionou Elesbão. Acho que… Sim.

Catarina passou dias convivendo com sentimentos que há tempos não lembrava mais como eram… Sentia-se feliz, mas confusa. Não era a mesma Catarina. Elesbão tentou entender como sentia-se feliz sem aqueles sentimentos que naturalmente conviviam com ele… Tudo muito novo, mas confuso. Não era o mesmo Elesbão. Respiraram fundo e pressentiram uma construtiva relação, repleta de trocas, aprendizados… Talvez algumas desavenças.

Uma semana depois, decidiram se encontrar. Elesbão foi buscá-la em casa cantarolando Eduardo e Mônica. Catarina apareceu com um beijo, uma flor e um livro: programando em PHP. Elesbão também lhe presenteou: um par de algemas. Catarina gargalhou e agradeceu. Elesbão sugeriu um motel. Catarina preferia um bar, desta vez. Elesbão arregalou os olhos e respirou fundo. Catarina virou-se de sopetão, mudou a fisionomia e emendou: “precisamos conversar”.

Elesbão respirou fundo e continuou dirigindo. Catarina disse que estava indo rápido demais. Elesbão pisou no freio. Catarina riu novamente, falava sobre seus sentimentos. Ele pediu desculpas por estar devagar demais, em sintonia diferente. Catarina perguntou como seriam quando paixão acabasse. Elesbão prometera não criar expectativas, apenas viver intensamente. O tempo cuidaria do resto. Catarina tinha medo, não queria sofrer novamente. Elesbão garantiu que, apesar das incompatibilidades, faria de tudo para não magoá-la.

Catarina não tinha se dado conta, até então, que tudo era muito novo para Elesbão. E aquilo poderia influenciar no relacionamento dos dois. Elesbão não percebeu que Catarina, desta vez, não queria apenas diversão. Ela também quer seu príncipe. E até e pensou, de verdade, que no fundo, ele poderia ser Elesbão. Mas isso não importava mais. Silêncio áspero, olhares perdidos, clima de “e eu uma pedra” no ar. Naquele instante, Elesbão e Catarina voltaram a ser as mesmas criaturas extremamente diferentes de sempre.

E essa história termina aqui, senhoras e senhores. Mas a nossa ainda não. Ela pode ser metafísica, impulsiva e arriscada como Catarina; racional, conservadora e determinada como Elesbão. Ou tudo junto, intensamente. Ainda pode ser algo completamente ao avesso… Ou uma interminável festa da Rô, vai saber… O segredo é decidir o que for melhor e não se arrepender. E torcer por finais felizes envolvendo eu, você, elesbões e catarinas.

Ou ao menos que a amizade permaneça a mesma.

André Marmota acredita em um futuro com blogs atualizados, livros impressos, videolocadoras, amores sinceros, entre outros anacronismos. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (14)

  1. Os relacionamentos entre Catarinas e Elesbãos podem tornar-se mais frutíferos do que ambos imaginam. Eu, um típico Elesbão, passei 12 dos melhores anos da minha vida ao lado de uma típica Catarina. Portanto, Elesbãos desse Brasil, à luta! Não deixem a timidez vencer frente às suas Catarinas 😉

  2. Elesbão não tem amigos!!!! (piada interna). A vida é assim mesmo, cheia de desencontros e decepções. Mas não podemos desanimar. Porque não são só Elesbões ou Catarinas que andam por aí. E um dia as coisas se acertam, de um jeito ou de outro. Enquanto esse dia não chega, ouvimos o cântico sagrado dos monges narazakianos: “paunuku, paunuku, paunuku”.

  3. Hahahaha…quem é ess Lello Lopes???
    Esse cantico sagrado narazakiano, hahahaha… perfeito, adorei! E concordo plenamente contigo Lello, e enquanto isso tb ouço tal cântico. hahahahaha…foi muito boa essa.

  4. O meu sobrenome e Elesbao, eu nao entendo o que e o que se passa aqui nisso com o nome ELESBAO! estou por fora, mas o fato real e que meu sobrenome e ELESBAO! eu sempre gostaria de saber a origem desse sobrenome?! alquem sabe?

    Obrigado.

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