O que a Copa do Mundo tem a ver com eleições?

A Copa do Mundo, assunto que preencheu boa parte do tempo em nossas últimas semanas, recebeu atenção de torcedores e interessados de, pelo menos, duas formas distintas: dentro ou fora do Twitter. Quem optou por ligar computadores, celulares e afins para entrar na conversa através da ferramenta, certamente teve percepções diferentes daqueles que se relacionaram com o Mundial apenas pela TV. Provavelmente você também ouviu, mais de uma vez, algum colega lhe dizer algo como “preferi acompanhar o jogo no Twitter”.

Mesmo com o volume de mensagens capaz de “derrubar” o sistema, a sensação de que estavam todos em um imenso boteco não se perdeu – e não me refiro apenas aos palpites, vibrações e decepções durante os jogos. Embalada pelo clima da festa, a ferramenta foi tomada por uma porção de manifestações temporárias em forma de hashtag. Começaram quando o zagueiro nipo-brasileiro Túlio Tanaka “quebrou” Drogba e não pararam mais: entre os jogadores brasileiros, Felipe Melo (“vilão” da eliminação brasileira) e o “bad boy” Kaká (expulso contra Costa do Marfim) protagonizaram ondas de mensagens. Personagens como Maradona, o polvo profeta Paul, o “pé-frio” Mick Jagger e a modelo paraguaia Larissa Riquelme, populares no “mainstream”, circulavam o tempo todo.

Agora, gostaria de chamar a atenção para outros dois movimentos, ambos diretamente relacionados à TV Globo. O primeiro, popularizado pela palavra-chave #diasemglobo, propôs um boicote à emissora no dia 25 de junho, durante o jogo Brasil x Portugal, por conta da reação da emissora após a discussão entre o técnico Dunga e o jornalista Alex Escobar. Apesar do “buzz” gerado pela ferramenta, a audiência da emissora não sofreu impacto – a TV Bandeirantes, que também transmitiu a competição, somou três pontos a mais em relação ao jogo anterior.

Enfim, o segundo movimento fez bem mais barulho: o #calabocagalvao surgiu espontaneamente durante a abertura do Mundial, em 11 de junho, e não saiu dos tópicos mais citados do Twitter durante dias. O barulho aumentou graças a brincadeiras alusivas a uma tradução fora de contexto: muitos estrangeiros acreditaram que “cala boca” seria “salve”, e galvão seria um pássaro ameaçado de extinção. A repercussão na mídia – incluindo The New York Times e El País, além da capa da revista Veja – fez com que o próprio narrador se apresentasse ao telespectador “entrando na brincadeira”. Ainda que não precisasse, já que seu público tradicional não está, ainda, totalmente conectado à rede.

A diferença? Entretenimento. – Parece óbvio o que vou dizer aqui, mas nem todo mundo percebe um detalhe sutil entre as duas manifestações. Ao contrário do “#diasemglobo”, o “#calabocagalvao” tem em sua gênese e desenvolvimento um caráter de diversão, como se fosse uma mera peça de humor. Os colegas que buscam a “fórmula do marketing viral” já perceberam isso há tempos. Mesmo se não soubessem, teriam acesso a levantamentos como o da comScore, que estimou 25% do tempo gasto online pelo público jovem em sites de entretenimento, seguidos por comunicadores instantâneos (22%) e sites de relacionamento (15%).

Parece simples, não fosse por um detalhe filosófico: é possível mensurar o nível de “entretenimento”, quer dizer, qual a quantidade de “carga emocional” que vou usar para “temperar” a mensagem e passar adiante? Certamente é este o maior quebra-cabeças de quem decide planejar seriamente algum burburinho online. Ao mesmo tempo, para um usuário comum, não há muito a perder diante da elaboração de um vídeo bem editado, que leve a alguém pensar que, de fato, exista um “Galvao Institute” arrecadando fundos para salvar um pássaro.

Partindo dessa premissa, é bom que ninguém se surpreenda quando algum candidato a qualquer cargo nas próximas eleições esteja como pivô de alguma mensagem – positiva ou negativa – “envelopada” em um formato de entretenimento. Como há uma comparação constante com a campanha de Barack Obama, basta citarmos o exemplo do vídeo “I Got a Crush on Obama”, elaborado por entusiastas democratas. Agora que o Mundial de futebol acabou, é hora de darmos atenção às “vuvuzeladas” que os eleitores, outrora torcedores, darão nesse campo.

Cururu 2006 – Não é novidade alguma associar uma candidatura a humor no Brasil. Um dos primeiros candidatos que me recordo a usar o mote “lazer e diversão” para tansmitir sua mensagem eleitoral intencionalmente foi o ex-vereador de Pelotas (RS) Cláudio Roberto dos Santos Insaurriaga, conhecido por Cururu. Com a ajuda do assessor Leonardo de Leon, produziu dois vídeos para a campanha ao Congresso Nacional em 2006 e os disponibilizou no YouTube. Cururu não foi eleito, mas vez ou outra os links de sua propaganda eleitoral diferenciada reaparecem. Como no jantar exótico preparado por sua esposa: “mas bah, gato com batata?”. “Isso é que dá tu não querer ser ladrão nem mentiroso…”.

Mais Twitter na Copa – Para encerrar do ponto onde começanos, foi uma bola dentro da ferramenta ter se preparado para o Mundial, associando as hashtags dos países com suas bandeiras. Entre as possibilidades criadas diante disso, destaque para duas propostas de visualização gráfica de mensagens durante as partidas: Twitter Buzz, da CNN, e o Match Replay, do The Guardian. E que venham as ferramentas de observação do buzz eleitoral.

(Publicado originalmente no IDGNow)

André Marmota acredita em um futuro com blogs atualizados, livros impressos, videolocadoras, amores sinceros, entre outros anacronismos. Quer saber mais?

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