Não, ainda não é a discussão sobre a utilidade daquele papel com letras engraçadas entregue a todos os incautos que dedicem passar quatro anos na faculdade de jornalismo – como faremos aqui um dia, para deleite do Rafael. A história a seguir comemora uma efeméride especial, que remete ao dia seis de novembro de 1999.
Naquele ano estava na reta final do curso. Já havia enganado boa parte dos professores da Cásper Líbero, que acreditavam estar diante de um sujeito dedicado: fazia apenas o que considerava absolutamente necessário, ou seja, praticamente não entreguei tarefas muito complexos. A bem da verdade é que a grande maioria consegue se formar com os dois pés amarrados nas costas… Depende do que você espera para a sua vida.
Enfim. Era o ano em que os homens se diferenciavam dos meninos, graças aos seus projetos de conclusão de curso. Alguns mostravam toda sua competência e elaboravam publicações ricas em detalhes minuciosamente apurados. Ao lado de três amigos, optamos pela alternativa mais divertida e menos trabalhosa: um programa esportivo de rádio.
Assim, entre outras tarefas tratadas com o mínimo de compromisso, nasceu o Grandes Tormentos do Esporte, espécie de embrião de todas as mesas redondas radiofônicas em FM que hoje proliferam no dial. Sinal de que, ao menos, a idéia era viável.
O primeiro “esboço” do que seria o trabalho já tinha sido executado, ainda que de forma incipiente, no final do ano anterior. Em meses de trabalho, a única coisa que permaneceu inalterada foi o tema de abertura – Rock n´ Roll, Gary Glitter – e a nossa descontração. Todo o resto foi fruto de planejamento, gravações, ajustes e afins para o dia da apresentação.
Era uma tarde de sábado ensolarada e quente, que refletia dentro da minúscula salinha de aula reservada pela coordenadoria – o auditório, onde normalmente ocorrem as apresentações, estava ocupado com outro evento. Os quatro amigos combinaram o “uniforme” – calças brancas e camisas cinza – e trouxeram todas as camisas de futebol possíveis, para fazer a decoração. Horas antes (horas!) concluí a apresentação em power point. Tinha até uma foto seminua de uma modelo norte-americana, para quebrar o gelo.
As quatro da tarde, a sala estava cheia. Tínhamos apenas alguns minutos para apresentarmos o projeto – por conta disso, não foi possível ouvir os 40 minutos do programa piloto. Se pudesse voltar no tempo, talvez preparasse uma versão compacta, com os melhores (e piores) momentos, dando um tom diferente à apresentação.
Enfim. Entre os três professores que avaliaram o nosso projeto, um era o verdadeiro mestre do rádio, conhecedor de toda sua história e autor de um livro muito conhecido sobre o tema. Foi o último a emitir seu parecer sobre o trabalho, e o fez com duras críticas. Ignorou o “trocadalho” do título e achou o nome “tormentos” um tormento. Sentiu-se mal com toda a “barulheira” e com falta de cultura dos comunicadores.
Um de seus argumentos, aliás, foi alvo de piada fraca. Ele fez referência ao apêndice de seu livro, “Regras para um bom comunicador”, lembrando que a impostação da voz é apenas o oitavo item mais importante dentre as dez regras estabelecidas por ele. Minutos depois, outro avaliador elogiou a voz do apresentador do programa, no caso eu. Mesmo sabendo que poderia ser retalhado, não pensei duas vezes: “muito obrigado, mas este é apenas o oitavo item mais importante…”.
Nada contra as críticas – pertinentes, mesmo dirigidas a um projeto pensado para o FM. O que achei impróprio, no entanto, foi a defesa ferrenha ao AM, alegando que “as ondas curtas não vão acabar, como sugerimos nessa apresentação. E que em breve, novas tecnologias vão melhorar a qualidade de áudio. Mesmo sem elas, a humanidade deve muito ao AM”. Concordamos perfeitamente. Só não acreditamos que tudo aquilo tinha a ver com a nossa proposta.
Definitivamente, o professor em questão não gostou da gente. Nem do trabalho. Nem da piada. Nem do slide de mulénua. Se minha vida profissional dependesse deste cidadão, ficaria mais um ano em busca do tal diploma de jornalista. Ou quem sabe desistisse dessa vida injusta.
O destino é mesmo imprevisível. Se o professor conseguisse dar a nota desejada, provavelmente agora estaria vendendo churros na praia – compre três e acesse a Internet por meia hora. No fim, acabei me formando. Mas olha, tem dias que a idéia do churro online parece tão melhor…
(Postado em 10/11/2004)
Parece melhor porque vc é um menino mal criado que não vai pra casa na hora certa! O.o
[Ah, mas e a discussão sobre o diploma? :P]
Toda banca tem o professor-chato que quer massacrar o aluno. Nada me tira da cabeça que os professores combinam antes algo como “tu fazes o papel de chato, eu faço o papel de bonzinho” – só para manter o equilíbrio 🙂
Como diz um professor meu: nem sempre os que tiram as melhores notas conseguem se dar bem. Segundo ele, vivia passando somente com a nota mínima, enquanto teve uma ex-namorada que tirava sempre as melhores notas.
E dias desses encontraram-se: ela como caixa, ele um juiz de direito… 😛
A prática sem dúvida te tornou melhor escritor hoje. O texto é hilário. Levei bomba por faltas no último semestre da FAU-UFRJ em jogada políitca para impedir minha entrada na pós. A perua que me reprovou não entrou de qualquer maneira e eu entrei e detestei o programa.
Um outro professor quis reprovar nossa equipe porque optamos por um conjunto de classe média e infra para onde está hoje o RioSul vazio. Agradeço ao Luis Paulo Conde por ter-nos livrado desta.
Você já era jornalista nato. Eu só curtia o conceito de arquiteta. Bom sábado e domingo, André!
Ainda bem que a nota não dependia desse ser tão simpático!
Na época da faculdade tinham as gostosas q tiravam 10 e eu que tirava 7/8 (não tenho um rabão mas sei ler). Hoje as gostosas nem são tão gostosas e algumas estão atras do balcão.
ahhh, professor fdp sempre vai existir, só me formei pq fiz chantagem com um professor.. vou aproveitar pra contar minha história tb. Té.