Twitter e o misterioso suicida do Anhangabaú

Sem ter o que fazer no trânsito na noite da última quinta 19, elucubrava mentalmente sobre a “twittermania” das últimas semanas. Incrível como nunca se falou tanto sobre a ferramenta: matéria de capa em revista semanal, polêmica envolvendo apresentador vendendo espaço publicitário, popularização do microblogging e sua potencial transformação em um “orkut”… Instintivamente, comemorava o fato de ter percorrido o trajeto Rua Funchal – Praça da Bandeira em tempo recorde, ao contrário das quatro horas da terça 17 (que ocupou a vaga da sexta 13 no posto de dia agourento).

Tudo caminhava normalmente, até que o trânsito parou ainda na 9 de Julho, pouco antes do túnel do Anhangabaú. “Tava indo tão bem…”, pensei.

Seria um acidente? Excesso de veículos? No rádio, apenas a informação trivial: não-sei-o-quê-lentidão, não-sei-o-quê-tantos-quilômetros, aquela coisa de sempre. Em minha direção, uma funcionária da CET andava rapidamente, conversando em seu walkie-talk. “Não-sei-o-quê-interditar-logo, não-sei-o-quê-cones-na-pista”… Minha nossa!

Alguns metros adiante, observo melhor a movimentação. Muita gente no Vale do Anhangabau e no Viaduto do Chá. Túnel parcialmente fechado no sentido Tiradentes. Sons de sirene, indicando presença de ambulâncias e viaturas de resgate. Nenhuma emissora ligada no trânsito informava o que diabos acontecia. Peguei o celular e, entre as múltiplas funções que dispunha, optei pela câmera.

Trânsito misterioso
Foto vagabunda diante do Anhangabaú, quinta-feira 19, sete e quarenta e pouco.

Se tivesse mais tempo, o passo seguinte seria abrir o Twibble e postar algo como “o que acontece no Anhangabaú?”. Felizmente, minha faixa destravou e pude seguir viagem. E nada de informações sobre a interdição no rádio…

Assim que parei o carro, subi a foto para o Flickr. Mas na correria, ignorei o Twitter – a noite passou, o timing idem, as atividades tomaram conta e o assunto esfriou.

Com calma, neste fim de semana, fiz uma busca despretensiosa por qualquer coisa relacionada a Anhangabaú na noite de quinta. Encontrei um único twitt, bastante suspeito, do @leonardocaineli:

Certamente ele também estava ali, no mesmo lugar que eu, indignado com o trânsito paulistano. Curiosamente, além de nós dois, outros populares com potencial observador poderiam usufruir da mobilidade e da facilidade em atualizar o Twitter. Mas como é possível não haver nenhum registro sobre a tal movimentação no Anhangabaú? E se alguém realmente pulou dali, sobreviveu e ficou por isso mesmo? Ou seja lá o motivo, por que ninguém se manifestou?

Hoje temos uma profusão de canais para compartilharmos informações, mas enquanto seus amigos conectados se esforçam para aparecer ediante idéias e conexões, as dezenas de pessoas que estavam no Anhangabaú na quinta, atentos à muvuca, perderam uma grande chance de habilitar o GPRS e entender na prática “qual a importância desse negócio que todo mundo comenta, mas que até agora não vi nada demais”.

Não custa lembrar que são as pessoas, e não a ferramenta, que a tornam atraente e útil. De repente, além de especular a “orkutização” do Twitter ou reclamar do apresentador que vendeu espaço, a exposição das redes sociais na mídia faz com que mais pessoas compartilhem seus pontos de vista, questionem opiniões alheias, alimentar uma – ainda distante – cultura de colaboração.

E se houve ou não um suicida no Anhangabaú semana passada, vai continuar sendo um mistério.

Comentários em blogs: ainda existem? (13)

  1. Por mais boboca que isso possa parecer, até me deu vontade de comprar um telefonezinho daqueles com teclinhas QWERTY pra brincar de estar conectado o tempo todo. Mas aí olhei pra minha esposa terminando de se arrumar na frente do espelho e a vontade passou. Uma ótima janta pra nós. Abração, Marmota.

  2. Euu estava lá rsrs Acho o que ele realmente queria era chamar a atenção e atrapalhar o transito já tão caótico nessa cidade!!
    E pra alegria da nação rssr ele foi agarrado por um bombeiro rastejante rsrs

  3. André, se não aconteceu dentro do mundinho da blogosfera e afins, então não valeu. Porque só vale o que se passa ao redor do umbigo. E o pessoal ainda acredita que está influenciando pessoas.
    Abs

  4. André, o curso de jornalismo aqui em Vix ainda está fazendo efeito. Pensando neste perfil de pessoa que fica preso no trânsito, estou montando uma página que possa agregar tuitadas acerca do trânsito da nossa Capital.

    Neste caso do Anhangabaú seria muito útil, afinal, quem está in locco vê muito mais – e fala com mais segurança – do que o repórter sobrevoando o local.

    Abraço! Estou de volta, viu?
    🙂

  5. Pois as rádios de trânsito deveriam incentivar a coisa… Seria uma ferramenta e tanto para eles!

    Quanto a mim, estou apenas engatinhando na coisa: sem saber de reportagem alguma e só tendo ouvido falar acessei o danado e estou começando a tuitar… Me parece bastante interessante e a idéia de usá-lo como força mobilizadora é bem interessante…

    Bom, enquanto divulgador já é uma ferramenta e tanto.

    Abs,
    Muta

  6. Cá estou, @leonardocaineli, o dono do tal twitt suspeito!

    Segundo a funcionária da CET era um suicida, na minha opinião não passava de um poser fdp que só queria chamar a atenção!

    Fui obrigado a desviar para o centro da cidade, pegar um trânsito desgraçado, me deparar com bêbados, drogados, mendigos, trombadinhas e putas (que deveriam pagar para serem comidas), e tudo isso pra que? Pra nada! O covarde nem se matou!

    Repercussão 0 (bem feito pro fdp!). Se ele estiver lendo meu comentário, aqui vai um recado: da próxima vez seja homem e se jogue de cabeça, maldito! Mas faça isso de madrugada, não na hora do rush, corno duma figa!

    E tenho dito!

    Abraços
    Leonardo Caineli

  7. Eu não faço esse jornalismo cidadão via Twitter por dois motivos: 1) não acontece nada em Paranavaí (e, quando acontece, sai no Fantástico); e 2) meu celular é pré-pago.

    Mas que a ideia como um todo é interessante, isso é.

    []’s!

  8. No caso específico do trânsito, acho que rádios como a Sulamérica podem exercer essa tarefa muito bem. Os motoristas/ouvintes participam constantemente do programa contando o que estão vendo.

    O grande inconveniente do Twitter no trânsito é que não dá pra twittar e dirigir com segurança ao mesmo tempo. Se falar ao celular já é perigoso, imagine ler, escrever, fazer uploads, comprimir urls… É inviável.

    Para quem anda de ônibus e metrô, é bem mais fácil. Por outro lado, qual é a vantagem de saber que o trânsito está lento no Vale do Anhangabau para essas pessoas, se o ônibus não vai mudar o caminho de jeito nenhum?

    Seja como for, sua teoria sobre a importância da mobilidade no uso do Twitter é bastante válida. Ontem, por exemplo, tivemos uma enxurrada de mensagens de pessoas que estavam assistindo ao show do Radiohead.

  9. Eu tava procurando alguma coisa sobre meu pai e vejo q muitas pessoas ainda se suicidam ali, no dia 24/05/2005 meu pai se suicidou ali no viaduto do cha, ainda é moh barra, abração

  10. e o fdp do viaduto ,pulou ou não pulou…..eu estava lá mas me cansei da palhaçada….então levei meus sobrinhos para a galeria do rock….então depois de tanto exibicionismo não rolou nada..que sem graça

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