Ano passado, divaguei sobre uma teoria envolvendo redes sociais – aquela história de que existem apenas seis graus de separação entre você e qualquer ser humano do planeta. Foi a primeira coisa que lembrei diante da mais nova brincadeira do mundo virtual, que está a um passo de virar coqueluche entre os internautas brazucas.

Já faz idéia do que estou falando?

A tal brincadeira foi criada por um engenheiro chamado Orkut Buyukkokten. Interessado em redes sociais, ele aproveitou suas horas de folga em sua mesa no “oráculo” Google para bolar um novo serviço ligado ao tema. Conseguiu: batizou o projeto com o seu primeiro nome, mostrou ao seu chefe e, logo no início de janeiro, foi lançado sem maiores alardes.

Em poucos meses, o mundo se encantou com as funcionalidades do Orkut, uma mega-comunidade que “conecta pessoas através de uma rede de amigos confiáveis”, como lembra, logo na sua primeira página. Não é qualquer um que pode entrar na festinha: é preciso um convite de alguém que esteja lá. “Já tem malaco oferecendo convite no Orkut a duas doletas no ebay”, observa o Inagaki, antes de me chamar pro negócio – sem qualquer ônus…

Nas primeiras horas de navegação, percebe-se que a coisa é interessante: a começar pelos perfis detalhados, não é difícil incrementar sua lista de amigos com velhos conhecidos ou gente bem batuta. A aproximação entre os membros é feita por comunidades – o passo seguinte é descobrir grupos de seu interesse, desde blogs até Mel Brooks, passando por Movable Type e Inter de Porto Alegre.

Confesso que fiquei perdido – além de me sentir o próprio Elesbão da TV Pirata: “eu não tenho amigos”. Aos poucos, percebi que a coisa não funciona como um “almas gêmeas”, onde é só mandar uma mensagem bonitinha pra primeira gata solteira que surge no mecanismo de busca. Em compensação, recebi ajuda valiosa de uma dezena de gringos, graças a uma pergunta que fiz sobre WordPress à comunidade relativa ao tema.

É verdade, patota: o Orkut funciona! E “tem tudo para se tornar outro fenômeno verde-amarelo, igual o Fotolog. Só espero que a qualidade do serviço não decaia com a invasão tupiniquim”, adverte o Alexandre Sena. O temor procede. A cada dia, mais brasileiros aparecem no sistema – para desespero de quem já viu a novela fotologue e não quer mais saber de narcisismo exagerado e baderna queima-filme tupiniquim. Inevitável: vai chegar o dia em que o primeiro mané vai mandar um “ki kuti-kute essi orkuti” para toda a comunidade…

Pessoalmente, isso não me preocupa. O que me assusta é o interesse do “Oráculo” diante de tamanho potencial nas mãos. “Não fazemos idéia. Vamos observá-lo e ver como as pessoas reagem”, diz David Krane, o “porta-voz” do Google, nesta matéria pós-lançamento. Ah, vá! Até o filho de nove anos do sujeito deve ter dado a dica: “Pô, pai, que legal! Já pensou quando juntarem os dados pessoais de todo mundo e deixar as buscas e aqueles anúncios maletas com a cara deles! Bacana, né?”. Já vejo máquinas e cérebros a todo vapor nos laboratórios do Google…

E o que dizer desta cláusula contratual? “By submitting, posting or displaying any Materials on or through the orkut.com service, you automatically grant to us a worldwide, non-exclusive, sublicenseable, transferable, royalty-free, perpetual, irrevocable right to copy, distribute, create derivative works of, publicly perform and display such Materials”. Preciso me convencer de que é possível confiar neles…

Ainda não acabou:

– Dá pra falar muito sobre o tal Orkut e a coisa continuar nebulosa. Se este ainda é o seu caso, esta matéria do site Magnet explica detalhadamente o que eu resumi acima.

– “Linkar pessoas é um exercício estático… Trocar cartões não significa interesse comum e relacionamento. Significa apenas um referencial”. Opinião de Hernani Dimantas, que também está brincando com o Orkut – mesmo achando incoerente linkar pessoas para estabelecer uma rede.

– Aliás, tanta gente que sou fã está por lá… Mas pra manifestar isso no Orkut, é preciso ser “amigo” delas – não me parece prudente adicionar pessoas na lista indiscriminadamente e gerar reações adversas do tipo “quem é esse Marmota?”. Como o Orkut é só um protótipo – e portanto sujeito a falhas, talvez possa ser aperfeiçoado. Boas idéias como as de Rebecca Blood e Celso Goya bem que poderiam chegar aos ouvidos de Orkut Buyukkokten.

– Por fim, estou vendendo convites pra brincadeira… Baratinho!