Esta nota do Comunique-se, publicada pelo Rafael Menezes, surgiu num bate-papo despretensioso. Na manhã de terça-feira, o Jornal da Tarde publicou uma extensa reportagem com o perfil do aposentado de 78 anos que tornou-se um dos novos milionários do Brasil.
Méritos, evidentemente, para a repórter Flávia Tavares, que apurou a história. De qualquer forma, fico imaginando se houve algum debate na redação: até que ponto vale a pena publicar nome, endereço, hábitos e outros detalhes de um sujeito que, a partir de agora, pode ser visto como um alvo fácil, independente das intenções de quem o procure – podemos imaginar as piores possíveis.
Os especialistas ouvidos pelo Rafael foram unânimes em destacar a diferença entre “interesse público” e “interesse do público”, entre “direito à informação” e “direito à privacidade”. Um dos comentários, da Marta Julião, vai fundo em nossa condição humana: “a imprensa expôs o ganhador de Santa Rita do Passa Quatro porque trata-se de um jardineiro, idoso e, até então, pobre. Aposto que se fosse um médico, um político ou alguém importante, a discussão sobre ética teria ocorrido na reunião de pauta. A imprensa tem medo de errar com ricos, mas quando é com pobre a conversa é outra”. Será?
E você, se soubesse os detalhes de um ganhador da Mega-Sena, publicaria em seu veículo – seja ele um jornal ou uma conta no Twitter?
Publicaria todos os detalhes se eu soubesse que o ganhador é um político que ganhou mais de uma vez. Porque isso tem toda cara de lavagem de dinheiro, compra de bilhetes.
Na história do velhinho, fico dividido. Acho que é um baita perfil, mas é certamente um sujeito que sabe proteger seu direito à privacidade muito menos do que um João Alves, aquele amigão de deus.