Desculpas aceitas, permanentemente

Era madrugada de quinta para sexta-feira. Devia ser o fim de mais um daqueles dias que passou sem que ninguém percebesse, onde nos sentimos a criatura mais inútil da face da Terra.

Vontade de terminar melhor a noite. A solução estava perto de mim: o telefone celular. Algumas tecladas e os números da sorte já estavam no display. Outros algarismos me preocupavam: os que marcavam o adiantado da hora. Mas vontade de ouvir palavras animadoras, que pudessem anestesiar o efeito daquele dia, foi maior. Apertei o “send”. Atendeu alguém com voz embargada pelo sono.

– Mmmhhhhnnnaaalooohh…
– Oi! Te acordei?

Um adendo: sou especialista em perguntas assim – por essas questiono se estou mesmo na profissão certa.

– Nnzzhhhaacordou… Quem tá falando…
– Como assim quem? Sou eu, pô! Não disse que ia te ligar?
– Zzzzzvocê? você quem? não te conheço…

Não pensei duas vezes e desliguei o telefone. No minuto seguinte, mandei uma mensagem de texto para o mesmo número: “estou me sentindo um idiota por te acordar no meio da noite… Desculpas. Prometo te ligar em uma hora melhor da próxima vez…”. Eram duas da manhã de um 20 de junho perdido no passado.

Na manhã seguinte, fui surpreendido por uma mensagem. Tinha a imagem de um avestruz, seguido por um poeminha. Dizia que algumas coisas que fazemos, mesmo sem maldade, são difíceis de se explicar. E em momentos assim, a única coisa possível era se enfiar num buraco, deixar o mal-estar passar e pedir desculpas sinceras.

Toda essa historinha pra chegar a uma única conclusão. Em algum momento na vida, uma ou outra palavra ou ação pode incomodar outras pessoas. E das duas uma: ou existe maldade, arrogância, falsidade, infantilidade, entre outras características que definem o pior tipo de ser humano; ou foi sem querer.

Pessoas do primeiro caso não merecem qualquer tipo de esforço ou pensamento – costumo ignorar a presença destas e otimizar meu tempo com as outras. As que normalmente refletem, reconhecem erros, se arrependem do que fazem… Mesmo quando não há o menor sentido em fazer isso, como na historinha acima.

Tenho a imensa felicidade de estar cercado de pessoas que merecem o tal “aceite permanente de desculpas”. Entre elas alguém que, desde um 20 de junho qualquer, já consegue concatenar melhor as idéias ao atender o telefone dormindo. Mais do que isso: é a maior prova de que essa política funciona.

Comentários em blogs: ainda existem? (3)

  1. Marmota, eu sou do pior tipo de pessoa-dormindo-falando-ao-telefone: Não lembro de nada, nadica mesmo, depois que volto a dormir. Agora, quando a pessoa é amiga e sei que precisa, eu levanto, me visto e saio pra dar força. Quanto a cometer erros, quem não está sujeito? Concordo com você: o dolo é imperdoável.

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