Não vamos falar de você que, como os outros doze visitantes diários desse espaço, também tem blog (ou já teve) e, por conhecer a brincadeira, se entusiasmou com a excelente matéria da Revista Época, assinada por Ricardo Amorim e Eduardo Vieira, que deu grande importância ao tema reservando dez páginas à reportagem e alçando-a à capa desta semana. Tanto você quanto outro blogueiro empolgado tem razões de sobra para citar ou comentar o texto.
Então vamos falar de um leitor qualquer da revista. Aquele cuja profundidade diária na web não passa do MSN – ou da irrefreável transmissão incessante de arquivos powerpoint contendo não-textos do Veríssimo.
O cururu se empolga logo na primeira frase: o impacto dessa bomba é capaz de mudar a vida de todos nós. Continua ao perceber que o fenômeno dá voz democraticamente a qualquer pessoa minimamente alfabetizada, bastando para isso criar uma pagininha vagabunda e se relacionar com outras a partir dos comentários. “Mas… Como?”, pergunta, antes da grande revelação: um programador paulistano que hoje em dia consegue sobreviver apenas com os anúncios do seu blog. “Mas… Coooomo?”, reitera.
Sem entender direito como essa encrenca funciona, ele decide navegar por um dos blogs “mais quentes do Brasil” segundo a revista. A escolha é criteriosa: fatalmente, ele começa com alguém que possa se identificar mais facilmente. “Ah, já conheço o Juca Kfouri. O Noblat é jornalista. A Rosana Hermann, apresentadora. Cocada Boa e Jesus me Chicoteia? Nah. Quibe Louco??? Naaah. Sobrou esse aqui… Pensar Enlouquece… Criativo. É esse japonês na camisa de força, parece bacana”.
Assim, nosso cururu decide entrar no blog do Inagaki e é recebido com um espetacular texto de boas vindas. Todos aqueles dados genéricos da reportagem são potencializados não apenas pela explicação, mas especialmente pela quantidade assombrosa de comentários. Muitos deles respondidos ali mesmo, dando brecha para um debate interessante sobre blogs e jornalismo. “Cacete, esse cara é bom mesmo”.
Subitamente, ele se dá conta: “minha nossa, como tem mulher comentando aqui!!!”. Dezenas delas. “Olha essa aqui, diz que o tal Inagaki é padrinho dela!!!”, surpreende-se, ao esbarrar na opinião da Fabi. “Será que ela tem namorado? Hmmmm, dexovê… Dezoito anos? Mmmhhh…”. Diante de uma ebulição hormonal temporária, vai ao Google em busca de “blogueiro que aproveita o ambiente para paquerar”.
Então ele descobre o Doni. “Olha o cara xavecando no MSN e mostrando pra todo mundo!”. Mas logo depois, encontra mais uma opinião sobre a matéria da Época. Mais do que isso: defende a idéia de que estamos diante de uma revolução movida à informação, desde que cada vez mais pessoas inteligentes tenham acesso a essas ferramentas. “Estão falando de mim outra vez” – a essa altura, o cururu, ainda sem blog, se entusiasma de vez.
Nosso incauto leitor da Época segue os links sugeridos pelo Doni. Começa pela Beatriz, que “esnobou” ao relatar que leu e comentou a matéria enquanto tomava um café no Fran´s – tudo isso em tempo real, sem um único fio na mesa. “Puxa, as coisas nessa tal blogosfera são rápidas”, conclui.
Finalmente o novo blogueiro em potencial chega ao texto do professor Idelber – que logo nas primeiras linhas avisa: é a melhor matéria sobre o assunto (aqui, um adendo: a Veja e a Istoé já trataram o assunto no ano passado). E faz uma ressalva a lista dos “mais quentes”, citando mais três sugestões femininas e pedindo outras aos seus visitantes. No fim, resgata outro debate interessante: o excesso de conteúdo na rede e a sua inevitável banalização, já colocando na roda o Rafael Galvão e o Biajoni.
Nessa altura, o cara já está há longos minutos clicando em tudo o que vê pela frente e absorvendo muita informação relevante. Então vem o clique: “eu preciso conversar com esses caras todos, dizer o que eu penso, convidar mais pessoas a pensar comigo, xavecar as mulheres… Meu, eu preciso ter um blog!”.
Pronto. Basta um cidadão desses entrando na roda e a reportagem da Época terá valido ainda mais.
Em tempo, em um dos 25 momentos da Internet brasileira, este blog aparece graças ao registro do primeiro blog a figurar na capa de um caderno de variedades. É o que eu sempre digo: qualquer hora dessas, os arquivos dos blogs serão capazes de responder a qualquer pergunta.
Não lembro se era essa a porcentagem, mas ao que parece só 25% dos internautas brasileiros lêem blogs. Imagine o potencial de crescimento desta nova mídia? Eu fico realmente animado, e não só por isso, mas por imaginar que pessoas com algo a dizer podem estar prester a se unir à “revolução”.
Assim, eu acabo criando um blog.
(brincadeira! por enquanto ninguém corre este risco)
mas quem leva os nossos blogs a sério afinal? rss
Oi, André.
Eu, apesar de ser internauta muitas das 24 horas dos meus dias, não resisti à reportagem da época. Como “cururu”, passei o meu sábado inteiro em frente ao micro vasculhando os milhares de blogs da internet.
Confesso que também tive vontade de (re)criar um blog, mas passou!
Beijos
Será que essa reportagem dará um novo impulso (quantitativo e, tomara, qualitativo) na blogosfera brasileira? Só o tempo dirá.
porra, marmoto, o post que eu gostaria de ter feito!
:>)
divertido, bonitinho…
Bacaníssimo! Aliás, além de todos aqueles outros que eu citei, você também teria o seu lugar cativo em qualquer lista completa dos melhores: manter esta qualidade desde setembro de 2002 não é para qualquer um não. E boa sorte ao Colorado hoje à noite 🙂
Bem… pode não ser grande coisa – e não é mesmo – , mas me interessei em criar um blog por conta de uma reportagem na Veja que falava sobre o Viruduns. No Viruduns, por sua vez, tomei conhecimento do blog do Inagaki que, por sua vez, me levou ao blog da Suzie Hong (será que ela ainda é blogueira? textos maravilhosos!), e também a seu blog e a muitos outros.
Como ex-blogueira (eu sei, o Almirante falou que isso não existe) as vezes me sinto na contra-mão.