Vai, Massa, parte 1: é mais fácil falar Robinho

– Pois eu acho que o Massa não vai ganhar coisa nenhuma.

– Hmmmmm… Olha, o carro dele é bom, talvez o melhor entre os que treinaram na pré-temporada. E o companheiro de equipe dele carrega a fama de ser azarado. Pode ser que ele consiga, sim.

– Pois eu aposto o que você quiser: o título não vai ser do Massa.

– Ah, então vamos colocar alguma graça nessa conversinha. Eu aposto com você. Se o Massa for campeão mundial, você compra qualquer coisa da minha lista de presentes. Caso contrário, eu te dou qualquer coisa da sua listinha. Fechado?

– Fechado.

É isso. Em situações normais, a temporada 2007 da Fórmula 1 já seria muito interessante. Especialmente graças a aposentadoria do Schumacher: agora é a vez da nova geração, já que o mais experiente entre os 22 pilotos é o Barrichello, que não faz mal a ninguém.

Os outros grandes adversários do brasileiro na pista, além do “azarado” finlandês Kimi Raikkonen, é o bicampeão espanhol Fernando Alonso, que saiu da competitiva Renault dos últimos anos para pilotar a McLaren – que tem a grande chance desde Mika Hakkinen, há quase dez anos, de voltar a ser a melhor da F1.

Fora dos circuitos, o grande rival de Massa rumo a um título é a pressão. Forças poderosas (entenda-se Globo e patrocinadores) adorariam ressuscitar aqueles domingos maravilhosos, quando Senna fazia os telespectadores acordarem cedo para torcer por ele. Tudo que Barrichello, escudeiro de Schumacher por seis anos, não conseguiu fazer por causa da perseguição da imprensa e da torcida.

Enfim, tudo que a mídia deseja é repetir aquele carnaval do último 22 de outubro, quando Massa venceu e convenceu no GP do Brasil, aquele que marcou ainda o título do Alonso e a despedida do Schumacher. Certamente, minha torcida pelo brasileiro da Ferrari pode ser interpretada como uma “venda ao sistema”, como se eu fosse mais um telespectador manipulado pela empolgação.

Realmente, não sou especialista. Não sou um Livio Oricchio, um Fábio Seixas ou um Flávio Gomes. Se quiserem mesmo acompanhar e entender de verdade o mundo do automobilismo, comece com eles. De minha parte, além da curiosidade natural em saber como será a F1 sem o alemão, agora eu tenho uma aposta para vencer. Por isso, vai, Massa!

***

Ele foi melhor em todos os testes da pré-temporada. Foi o mais rápido nos treinos livres de quinta e sexta, em Melbourne. O primeiro passo para o título do brasileiro parecia traçado. Mas a caixa de câmbio tratou de dificultar as coisas.

Massa fez o quarto melhor tempo na primeira bateria de classificação no treino oficial. Tinha poupado o carro para chegar à superpole e disputar o primeiro lugar entre os dez. Mas na segunda parte, sua novíssima F2007 lhe deixou na mão. Sem registrar tempo, acabou em péssimo-sexto lugar, logo atrás de Rubinho, em péssimo-sétimo – apesar da Honda ter um carro muito feio e que consegue ficar atrás da Super Aguri, ao menos, Barrichello terminou a corrida bem na frente de Jenson Button. Tá ruim, mas tá bom, né?

Desconfio que Massa tenha ficado amigo demais de Raikkonen, e que o azar do finlandês seja contagioso – como dizem alguns entendidos. O “encosto” que parecia seguir Kimi na McLaren ficou no carro de Massa: o estreante da Ferrari não fez apenas o melhor tempo no sábado, como também sobrou na corrida de domingo.

E como todo castigo pra brasileiro é pouco, a decisão de trocar o motor fez com que largassem Massa para trás, ou melhor, deixassem-no na última posição. Então, enquanto Raikkonen escapulia na frente, praticamente sem ser molestado, o mundo conhecia mais um potencial sucesso: Lewis Hamilton.

Corajoso, o inglês tomou a frente do bicampeão espanho. logo na primeira volta. O troca-troca de posições devido aos pit-stops fez com que Hamilton liderasse o GP da Austrália por algum tempo. Enquanto isso, outro novato, o finlandês Heikki Kovalainen sequer fazia sombra ao ocupar o lugar de Alonso na Renault – é tudo que Nelsinho Piquet, de olho nessa vaga, deseja.

No final, Raikkonen recebeu os parabéns de Schumacher no celular, enquanto Alonso comemorava com Hamilton seu desempenho de encher os olhos. Na TV, Galvão Bueno se enrolava ao falar “Lewis Hamilton”. Por isso abusou da comparação que os pilotos fizeram dele com o atacante Robinho. Pra quê falar leues, liues, liuis ramilton, reminton, ramington… Ah, é Robinho mesmo, vai.

Mas e o nosso herói? Massa ficou longe da festa e frustrado com a caixa de câmbio. Mas nem de longe era aquele moleque que tropeçava a cada obstáculo enquanto pilotava uma Sauber em 2002. Tratou de encher o tanque nas duas únicas paradas que realizou e, com maturidade, chegou em sexto lugar, encostado em seu ex-colega de Sauber, o agora número um da Renault Giancarlo Fisichella.

Se a caixa de câmbio não quebrar, olê olê olá, ele chega lá.

(Em tempo: o melhor veículo especializado em F1 é o Red Bulletin).

Comentários em blogs: ainda existem? (3)

  1. O pé gelado do Raikkonen – surpreendentemente quente neste fim de semana – ainda vai aparecer.

    Também aposto em Massa, mas muito mais como torcedor mesmo… E o Alonso vai ter trabalho com o companheiro dele na McLaren, mas briga pelo tri.

  2. Bom, também não acredito que o Massa torne-se campeão. Assisti à corrida e realmente a fama de má sorte do Raikkonen deve ter passado para o Massa.

    Barichelo prefiro nem comentar. Esse deveria mesmo é se aposentar.

    Abraços!

Vai comentar ou ficar apenas olhando?

Campos com * são obrigatórios. Relaxe: não vou montar um mailing com seus dados para vender na Praça da República.


*