Existe um lugar onde as pessoas são perfeitas. Todos estão sorrindo. As mulheres, maravilhosas, deliciam-se com goles de cerveja gelada. Os homens fazem questão de ostentar sua boa saúde, mesmo com um Marlboro fumegante entre os dedos.
Em casa, tudo é uma Brastemp. A família toda acorda bem cedo, com os primeiros raios de um sol maravilhoso entrando na fresta da janela. E aquela margarina irresistível, derretendo no pão quentinho? Tudo leva a crer que será um dia maravilhoso – e será ainda melhor se o almoço for em uma daquelas lanchonetes fast-food sensacionais.
Papai e mamãe saem para trabalhar, cada um em seu carro do ano, ambos impecavelmente lustrados. Para chegar à prazerosa labuta, nada de estresse: paisagens bucólicas e estradas exuberantes, sem nenhum buraco. O sorriso não sai do rosto de ambos em nenhum momento.
Ou quase. Ao sair do escritório, todos ao mesmo tempo são obrigados a ouvir a estridente voz da ascensorista, em cada parada: “desceeee!”. Mas tudo bem, ainda há tempo de bater uma bola com os amigos. Sempre tomando cerveja, claro. E rápido, antes que um siri maluco resolva aparecer do nada.
Bizarrices, bizarrices. Mas tudo bem, afinal, nem tudo pode ser perfeito. Coisas assim são necessárias para quebrar o ritmo desse lugar incrível, onde as regras das mulheres e o xixi das criancinhas possuem a mesma cor azul-real…
Enfim. Nessa época do ano, culpa de um comerciante sabido, namorados brotam nesse lugar distante. Assim, os três ou quatro seres supremos, criadores desse mundo estúpido – que só existe na cabeça deles e nos intervalos da TV, capricham: em cena, jovens casais inseparavelmente lindos, abraços, beijos apaixonados… Apenas para comparar pessoas como eu, solteiros que não gostam de cerveja, não fumam e não possuem o carrão da moda, a pedras.
Querem saber de uma coisa? Dane-se esse maldito mundo maravilhoso, onde só quem consome se dá bem. Eu quero mais é ser feliz no meu mundo real, aquele onde mal dá tempo de engolir o café as seis da manhã, o carro começa a pifar no trânsito, o trabalho é estressante, o almoço é raro… E principalmente: onde nem as barangas te dão bola – que dirá as gostosonas.
Afinal, somos maioria. Ou não?
(Postado em 03/06/2003)
Risos. Ótimo post 😀
ahahah que raiva do mundo!!!
Depois deste post eu convido: Quer vir ser o Begbie no Blogspotting? (risos) Putz, eu já ia descer o sarrafo neste mundo / data malditos por você citados, num post, mas nem preciso mais, faço minhas as tuas palavras. Abração, Marmota!
Marmotinha (como diria a Naninha): Percebo que seus últimos posts têm sido carregados de um um clima de “e eu, uma pedra” constante… Belo post, crítica ácida. Eu também me revolto em ver como tudo virou mercado, até sentimentos e emoções agora são gatilho para comprar e comprar, para consumir e consumir. Isso entristece profundamente. Mas, infelizmente, o que podemos fazer contra? Só lamentar mesmo. Aquele abraço!
você expressou melhor o que eu pensei ontem e penso hoje. somos maioria sim!
Nossa e haja animação e otimismo para ser feliz nesse tal de mundo real… hoje mesmo peguei um engarrafamento de lascar… que já acabou com o meu humor… aí me pergunto… e o meu consolo??? blogs, é claro… ver q existe gente como a gente q tb é capaz de fazer criticas maravilhosas como essa… adorei. Beijos
A felicidade existe e se chama Cerveja! E morar longe de casa não é tão ruim, a não ser que você vá pra Bauru (risos)…
Ei, outra “Cacau” por aqui? Assim não dá, assim não pode! 😉 ”Coisas assim são necessárias para quebrar o ritmo desse lugar incrível, onde as regras das mulheres e o xixi das criancinhas possuem a mesma cor azul-real…” Hilário! Ótimo texto, Marmota. Muito bom mesmo! E nós, pedras, aqui… Eu ainda tentando me convencer que, como no dia do beijo, como no dia das crianças, como todos os dias, embora não sejam pra mim, nada me impede de que eu tenha um feliz dia dos namorados, mesmo sem namorado.
E o mais incrivel é coisas assim fazem o meu dia muito melhor!!! Somos a maioria? Não, Marmota querido… Somos os puocou e raros que enxergamos atras da nevoa do Malboro esse mundo real e feliz desse mesmo jeito.
Realmente muito bom este post mocinho!Mas olha só, voce é um doce de pessoa e não uma pedra. Tenho absoluta certeza de que a sua cara metade vai ser infinitamente melhor do que encomendou. Se demora é porque Deus ta polindo no capricho. Confie porque voce merece!
Somos a maioria sim! (E olha que nem carro eu tenho… )
Convivi décadas com amigas gostosas, achando que eu era chumbregada. Sempre houve gente que implicava comigo. Sabe o quê? Você vai ser um par, um dia. Tenho certeza de que uma pessoa legal como você vai encontrar outra pessoa legal.
Para mim foi necessário sair do Brasil, onde as mulheres vão à luta direto do “mundo azul.”
Aqui há mais flexibilidade. Bom dia, André!
Aaaaaaa, típico de dia dos namorados para quem é solteiro … mas o texto não deixa de falar sobre conceitos interessantes.
O mais incrível é que mesmo a gente que não dá tanta pelota assim a consumismos datas e outras coisas que tentam empurrar aos analfabetos funcionais espectadores do último beijo todos os dias a noite nas tvs, mesmo nós que temos senso crítico e que lemos, somos informados, temos opiniões, escrevemos, analizamos, e acreditamos que conseguimos ver o mundo com mais clareza que a grande maioria da maça alienada que nos cerca e nos comprime, mesmo nós lá no fundo ainda temos um pouquinho de vontade de viver nesse mundo perfeito, de namorar com uma gatíssima e dar a ela presentes caros no dia dos namorados, de estar em carros de luxo e viver exibindo nossas melhores conquistas aos outros e coisas assim.
Fico me perguntando até quanto nós que fomos criados sob pesada influência capitalista e propagandas insanas em quantidades insanas em todos os lugares estamos totalmente livres para pensar e hajir de um modo independente e pessoal em tantas situações em que todos tentam nos condicionar a hajir de uma forma bem definida.
Por hora saiba que você, quando namorar, vai ao menos ficar tentado a presentiá-la no dia dos namorados.
Marlon
Senti um ódio invejoso aí… ah, mas que se dane, HOMENS-PEDRA, UNI-VOS! 😀
Puxa… que saudades disso tudo. Dá até vontade de voltar aos espaços http:// …
Continuas escrevendo maravilhosamente bem!
Beijos
Meu… deixa a pedra rolar, porra!! (sacudida)
Quatro anos depois… lê-se o post como se tivesse acabado de sair do forno. Não sei o que é pior: vivenciar a realidade ou ter a consciência de que ela difere do que se nos apresenta (pelos comerciais).
Nós vivemos de ilusão, faz parte da regra da evolução, temos de estar felizes, ou parecermos felizes, para que possamos deixar mais descendentes da nossa espécie.. Triste Né..